Manejo de Cólon - Dra. Marilyse Fernandes

Manejo de Cólon

O Manejo de Cólon é uma alternativa ao escape fecal que tem grande impacto afetivo e motivacional na criança, com graves prejuízos ao seu desenvolvimento. Pacientes com escape fecal apresentam perda de autoestima, ansiedade, intolerância às frustrações e são extremamente indecisos e inseguros.

De maneira geral tem personalidade agressiva, punitiva e de autodestruição. Invariavelmente são dependentes de seu cuidador cerceando-se do convívio social. Portanto, restabelecer a continência fecal ou viabilizar medidas que mantenham os pacientes com doenças colorretais artificialmente limpos é o mais importante em qualquer estratégia cirúrgica ou clínica no tratamento dessas doenças.

Por Manejo de Cólon entendemos toda e qualquer medida que mantenha o cólon limpo evitando o escape ou perda fecal beneficiando tanto pacientes incontinentes ou retentores. Como medidas para o manejo de cólon citamos a dieta, laxantes orais, lavagens intestinais, treinamento postural evacuatório – treino de toalete, fisioterapia de assoalho pélvico, eletroestimulação. Dependendo da causa, uma ou outra medida tem a sua indicação e o seu impacto neste controle. 

Isoladamente, as medidas do Manejo de Cólon podem ser ineficazes. Ações multiprofissionais são essenciais para viabilizar as medidas propostas no tratamento da incontinência fecal. Psicoterapia individual, familiar ou de grupo, treinamento perante medidas como lavagem intestinal, apoio psicopedagógico e mudanças no padrão alimentar e comportamental tornam essenciais a participação de psicólogos, enfermeiros, pedagogos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas e fisioterapeutas. 

Agregar valores diagnósticos ou exames de provas funcionais como manometria anorretal, biofeedback, eletroestimulação também são determinantes na orientação de um plano terapêutico e de ações interdisciplinares. 

Programa de Manejo de Cólon

O Programa de Manejo de Cólon é um conjunto de estratégias para controle do escape fecal. Os objetivos de um Programa de Manejo de Cólon ou de Reabilitação do Intestino Grosso são: 

(1) restabelecer a continência intestinal e controlar o escape fecal, 

(2) garantir autonomia do paciente e de seus cuidadores perante as medidas necessárias para este controle, 

(3) reintegrar a criança na sociedade em que vive mediante a escola e a prática de esportes.

Dependendo do diagnóstico sabemos que a continência fecal nem sempre pode ser almejada. No entanto, o controle do escape fecal pode ser realidade e deve ser vislumbrado sempre. Uma vez que o cólon esteja limpo ou isento de fezes,o paciente pode ser considerado ‘socialmente’ continente ou seja, limpo de fezes e seco de urina. Uma vez definido como toda e qualquer medida capaz de manter o cólon limpo, é obrigação do cirurgião pediátrico disponibilizar para as crianças com doenças colorretais um programa interdisciplinar e multiprofissional de Manejo de Cólon. 

O paciente com escape fecal, ao ser admitido num programa de Manejo de Cólon, na maioria das vezes já foi submetido a inúmeros tratamentos prévios. É necessário, portanto, acolher a família e a criança apresentando um plano terapêutico e de cuidados com condutas e prazos bem estabelecidos. 

Os três principais objetivos são: 

  1. Controle das perdas fecais. Prazo: imediato. Após o diagnóstico é possível prescrever medidas que mantenham o cólon limpo controlando o escape fecal;

  1. Autonomia perante as medidas necessárias. Uma vez definido o plano de tratamento é necessário torná-lo exequível ou possível. Pacientes que têm prescrição de lavagem intestinal precisam aprender a realizar o procedimento e ter acesso ou disponível todo o material necessário. Para isso a equipe multiprofissional é essencial. Enfermeira, para ensinar o procedimento; assistente social para viabilizar o material, retornos e acesso ao serviço bem como avaliação social do paciente e do meio em que vive; psicólogo para dessensibilização às práticas e procedimentos e para auxiliar no enfrentamento e expectativas sobre os resultados. Prazo: variável, de médio prazo. Depende da causa e da medida proposta (ou necessária) para o manejo de cólon;

  1. Reintegração social da criança. Prazo: imediato. Uma vez controlada as perdas fecais, a criança precisa ser reintegrada no contexto social em que vive. O alvo inicial é a escola. Reestabelecer a rotina na escola, a frequência, a participação em atividades estudantis (principalmente a prática de esportes) e estimular atividades lúdicas, artísticas ou que ampliem o horizonte da criança é fundamental. Para tanto, as práticas relacionadas a psicologia, psicopedagogia, pedagogia e esportes são fundamentais. 

As medidas iniciais propostas exigem avaliação periódica, sistemática e frequente. Avaliar quanto aos resultados da lavagem intestinal ou efeitos do laxante na limpeza do cólon e no controle do escape fecal obriga consultas e reavaliações sequenciais. Da mesma forma que o aprendizado por parte da família quanto a eventuais medidas (lavagem intestinal, por exemplo),exige tempo, cuidado e atenção. Contar com hospital dia ou uma casa de apoio durante este período é essencial para tornar o tratamento possível nesta fase inicial. 

Encaminho meus pacientes que necessitarem de manejo de cólon aos cuidados da experiente equipe do Ambulatório de Distúrbios Evacuatórios da Faculdade de Medicina de Botucatu, liderada pelos Prof. Dr. Pedro Luiz Toledo de Arruda Lourenção e Profa. Dra. Giovana Tuccille Comes.

Os atendimentos poderão ser agendados pelo SUS ou por convênios médicos. Para maiores informações fale com minha equipe através do whatsapp.

Fonte: Manual de manejo de cólon: um guia prático para o tratamento do escape fecal na criança – Botucatu: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu, 2020.

Autores: Erika Veruska Paiva Ortolan, Fábio Antônio Perecim Volpe, Giovana Tuccille Comes, Lourenço Sbragia Neto, Pedro Luiz Toledo de Arruda Lourenção, Wellen Cristina Canesin.

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