Disfunção Miccional em Crianças

Disfunção miccional em crianças:
causas, sintomas e tratamentos

Para muitas crianças, ser treinada para usar o banheiro é um marco importante, trazendo mais independência e confiança. Mas e quando, mesmo após o treinamento, os “acidentes” continuam acontecendo?

Disfunção miccional em crianças
Alguns hábitos a serem observados no comportamento miccional da criança.

Quando uma criança acima de quatro anos apresenta episódios frequentes de perda urinária durante o dia, sem uma causa médica aparente, pode ser diagnosticada com disfunção miccional. 

Essa condição é mais comum do que se imagina e pode impactar não apenas o físico, mas também a vida social e emocional da criança. Se não tratada, alguns tipos de disfunção miccional podem levar a complicações graves, como danos permanentes nos rins. Felizmente, existem diversas abordagens para ajudar as crianças a retomarem o controle da bexiga.

Disfunção miccional em crianças
A bexiga é onde o xixi fica armazenado antes de sair do corpo.

O que é a disfunção miccional em crianças ?

A disfunção miccional descreve problemas relacionados ao armazenamento ou esvaziamento da urina, ou a continência urinária. Esses problemas podem variar desde dificuldade em “segurar” a urina até esvaziamento incompleto da bexiga.

De acordo com a International Children’s Continence Society (ICCS), a avaliação dessas condições deve ser baseada em parâmetros objetivos, como:

  • Presença e frequência de incontinência
  • Frequência de micções
  • Urgência urinária
  • Volumes urinários eliminados
  • Ingestão de líquidos

Esses critérios ajudam a identificar e classificar condições específicas de disfunção miccional, mesmo em casos que parecem estar no limite da normalidade. 

Causas da disfunção miccional em crianças  

Embora as causas exatas não sejam totalmente compreendidas, sabe-se que a disfunção miccional pode surgir de fatores comportamentais, neurológicos ou mesmo de hábitos desenvolvidos ao longo do tempo. Ela também pode estar associada a outras condições, como constipação ou disfunções intestinais, o que destaca a importância de um diagnóstico abrangente.

Disfunção miccional em crianças
Esquema gráfico da bexiga transmitindo ao cérebro a informação do desejo de urinar.

Sintomas da disfunção miccional em crianças  

1. Urgência miccional:

Crianças com bexiga hiperativa sentem uma necessidade urgente de urinar frequentemente, mesmo quando a bexiga não está cheia. Elas podem cruzar as pernas ou usar manobras para tentar segurar a urina, o que pode levar a episódios de incontinência diurna e aumentar o risco de infecções urinárias.

2. Sensação de bexiga sempre cheia:

Na disfunção miccional, os músculos que controlam a saída de urina não relaxam completamente, causando esvaziamento incompleto da bexiga. Isso pode resultar em sintomas como necessidade frequente de urinar, esforço para esvaziar a bexiga e sensação constante de que ela está cheia. 

Essa condição pode aumentar o risco de infecções nos rins.

3. Intervalos longos entre as micções:

Crianças com bexiga pouco ativa conseguem ficar mais de 6 a 8 horas sem urinar. Isso pode levar ao enfraquecimento dos músculos da bexiga, que acabam não respondendo aos sinais do cérebro. O resultado é o vazamento urinário causado pelo transbordamento de uma bexiga excessivamente cheia.

4. Constipação e incontinência  urinária diurna:

Estudos mostram que quase todas as crianças com disfunção miccional também apresentam constipação ou retenção fecal. Tratar adequadamente a constipação é um passo crucial, pois o alívio dos sintomas intestinais frequentemente melhora os problemas urinários.

Disfunção miccional em crianças
Tipos de fezes estabelecidos pela escala Bristol usada como referência no tratamento da constipação.

5. Enurese noturna e escapes acidentais de fezes:

Molhar a cama à noite é comum entre crianças após o treinamento, mas quando combinado com episódios de acidentes intestinais, pode indicar problemas nos nervos que controlam a bexiga e o intestino. Esses sinais requerem atenção médica.

Como é feito o diagnóstico de disfunção miccional em crianças?

A disfunção miccional¹ não é diagnosticada antes dos quatro anos, sendo necessário pelo menos seis meses de persistência dos sintomas após o treinamento. O diagnóstico precisa ser abrangente, incorporando histórico médico, comportamental e exames complementares.

O primeiro passo é uma avaliação médica para excluir causas anatômicas ou médicas subjacentes. Se nenhuma irregularidade for encontrada, exames adicionais podem ser recomendados, incluindo:

  1. Diários miccionais: registros detalhados da frequência e volume urinário ajudam a identificar padrões de funcionamento da bexiga.
  2. Exames de urina: para descartar infecções ou outras condições.
  3. Ultrassonografia do trato urinário: avalia a estrutura da bexiga e a presença de resíduos pós-miccional.
  4. Fluxometria e estudo urodinâmico: exames que analisam a força e o fluxo da urina, além da coordenação entre os músculos da bexiga e do assoalho pélvico.

Esses exames permitem um diagnóstico preciso e ajudam a planejar o tratamento mais adequado.

Quais são os tipos de disfunção miccional em crianças?

  1. Bexiga hiperativa (OAB): caracterizada por urgência urinária, aumento da frequência e, em alguns casos, incontinência urinária, sem infecções ou outras patologias. A hiperatividade do músculo detrusor é geralmente a causa subjacente.
  2. Adiamento miccional: crianças que deliberadamente adiam a micção, usando manobras como cruzar as pernas, apresentam baixa frequência miccional e risco de incontinência por bexiga cheia. Esse comportamento pode estar associado a distúrbios psicológicos, como Transtorno Desafiador Opositivo (TOD).
  3. Bexiga hipoativa:  caracteriza-se por baixa frequência de micções e necessidade de esforço abdominal para esvaziar a bexiga, devido à fraca atividade do músculo detrusor.
  4. Micção disfuncional: a contração simultânea do esfíncter uretral durante a micção resulta em fluxo interrompido e esvaziamento incompleto da bexiga.
  5. Incontinência de estresse: ocorre quando pequenos esforços físicos, como tossir ou espirrar, causam perda de urina.
  6. Refluxo vaginal: mais comum em meninas, ocorre quando a posição de micção leva à retenção de urina no intróito vaginal, resultando em escapes logo após o ato de urinar.
  7. Frequência urinária aumentada diurna: crianças com necessidade frequente de urinar durante o dia, com volumes eliminados muito baixos, mas sem sintomas noturnos ou infecções.

As manobras de contenção são comportamentos infantis que nos ajudam a identificar sinais de disfunção miccional.

Disfunção miccional em crianças
Manobras físicas utilizadas pelas crianças para conter a vontade de fazer xixi.

Comorbidades Associadas

A disfunção miccional frequentemente está associada a outras condições, incluindo:

  • Constipação e incontinência fecal
  • Infecções do trato urinário (ITUs)
  • Refluxo vesicoureteral (RVU) 
  • Distúrbios neuropsiquiátricos (como TDAH e ODD)
  • Distúrbios do sono (apneia ou parassonias)
  • Obesidade

Essas comorbidades não apenas complicam o manejo da disfunção miccional, mas também destacam a necessidade de uma abordagem multidisciplinar.

Tratamento para a disfunção miccional em crianças

O tratamento² da disfunção miccional combina estratégias conservadoras, comportamentais, medicamentosas e tecnológicas:

  1. Uroterapia: consiste em mudanças comportamentais, como horários regulares para urinar, postura adequada e hábitos
  2. Terapias medicamentosas: incluem anticolinérgicos para bexiga hiperativa e medicamentos que promovem relaxamento da musculatura do assoalho pélvico.
  3. Neuromodulação e fisioterapia pélvica: métodos como estimulação elétrica transcutânea (TENS) e estimulação do nervo tibial posterior ajudam a modular o controle neuromuscular da bexiga.
  4. Intervenções avançadas:  casos refratários podem se beneficiar do uso de Botox ou implantes de neuromoduladores sacrais.
  5. Tratamento de comorbidades:  a constipação deve ser tratada agressivamente, pois a melhora das funções intestinais muitas vezes resolve os sintomas urinários associados.
Disfunção miccional em crianças
Estratégias de tratamento para disfunção miccional em crianças.

Importância do apoio familiar

O apoio da família é um dos pilares fundamentais no tratamento da disfunção miccional. A compreensão e o envolvimento ativo dos pais e cuidadores são essenciais para criar um ambiente de segurança emocional e incentivo para a criança.

Como a família pode ajudar:

  1. Incentivo ao tratamento: Motivando a criança a seguir as orientações médicas e respeitar horários de micção e hábitos alimentares.
  2. Redução da ansiedade: Criar um ambiente acolhedor, livre de críticas, ajuda a diminuir o estresse associado aos episódios de incontinência.
  3. Observação de sinais: Os pais podem auxiliar os profissionais de saúde, monitorando e relatando mudanças nos padrões de micção e nos sintomas da criança.

O apoio familiar também ajuda a criança a superar o impacto psicológico da condição, como vergonha ou isolamento social. A colaboração entre os responsáveis e os profissionais de saúde aumenta as chances de sucesso do tratamento e promove a recuperação mais rápida.

Quando procurar ajuda médica?

Com o acompanhamento correto, as crianças com disfunção miccional podem alcançar resultados significativos. A Dra. Marilyse Fernandes adota uma abordagem centrada na criança e na família, com base em evidências e em um cuidado sensível às necessidades únicas de cada paciente.

Se seu filho apresenta sintomas de disfunção miccional ou comorbidades associadas, agende uma consulta. Identificar o problema cedo pode transformar a qualidade de vida da criança e da família. Juntos, podemos construir um caminho de recuperação e bem-estar.

Referências:

¹: Disfunção Miccional nation wide childrens hospital

²: Sociedade Internacional Continência da Criança orientações a família

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