Cirurgia urológica minimamente invasiva: como ela transforma a recuperação das crianças

Cirurgia urológica minimamente invasiva em crianças: o que é e por que importa

A ideia de uma cirurgia sempre desperta preocupação nos pais, especialmente quando envolve uma criança. O medo da anestesia, o tempo de internação e o desconforto no pós-operatório costumam ser as principais angústias diante da necessidade de um procedimento urológico.

Mas a uropediatria tem passado por uma verdadeira revolução. Com o avanço das técnicas minimamente invasivas, permitiu-se tratar diversas condições com cortes menores, recuperação mais rápida e menos dor[¹].

Neste conteúdo, você vai entender o que é a cirurgia urológica minimamente invasiva, em quais casos ela é indicada e como tem transformado a experiência de recuperação das crianças, trazendo mais segurança e conforto para toda a família.

Como essas técnicas funcionam? (e quando são indicadas?)

1) Endoscopia urológica: tratamento sem cortes e recuperação rápida

Procedimentos realizados por dentro do canal urinário, sem cortes. Utiliza-se uma câmera delicada, adaptada ao tamanho da criança, e instrumentos finos.

Principais indicações:

  • Válvula de uretra posterior (VUP) – correção da obstrução que pode comprometer rins e bexiga;
  • Ureterocele – punção da “bolsinha” de xixi que se forma dentro da bexiga, liberando o fluxo urinário;
  • Refluxo vesicoureteral – tratamento com injeção de substância biocompatível no orifício do ureter;
  • Cálculo urinário – retirada ou fragmentação de pedras na bexiga, ou no rim.

Benefícios: geralmente, o paciente tem alta em até 24 horas, sente menos dor e retoma as atividades rapidamente [³,].

2) Laparoscopia: pequenas incisões, grandes resultados

A laparoscopia é uma técnica realizada por meio de pequenas incisões, pelas quais são introduzidas uma câmera e instrumentos cirúrgicos.

Exemplos de cirurgias laparoscópicas em crianças:

  • Pieloplastia para correção da estenose da junção ureteropiélica (JUP);
  • Nefrectomia (remoção de rim não funcional);
  • Correção de testículos localizados dentro do abdome.
  • Correção de varicocele (ligadura das varizes escrotais dentro do abdome)

Vantagens: menos dor, menor sangramento, cicatrizes discretas e recuperação muito mais rápida, com taxas de sucesso equivalentes à cirurgia aberta [³,¹²].

3) Cirurgia robótica: precisão e recuperação com conforto

A cirurgia robótica é a evolução da laparoscopia. O cirurgião opera em um console, controlando braços robóticos que oferecem visão 3D ampliada e movimentos de altíssima precisão, indicada especialmente para reconstruções delicadas ou de difícil acesso.

Indicações comuns:

  • Pieloplastia robótica (estenose de JUP);
  • Reimplante ureteral robótico em casos de refluxo severo;
  • Nefrectomia robótica parcial ou completa permite a retirada de parte do rim que apresenta comprometimento.

Resultados: a literatura médica mostra menor tempo de internação, menor dor pós-operatória e recuperação mais rápida, com a mesma taxa de sucesso da via aberta [³,¹⁰¹²].

Em resumo, na uropediatria, endoscopia resolve problemas “por dentro”, laparoscopia é excelente para “retirar ou reparar”, e a robótica brilha quando é preciso reconstruir com precisão milimétrica.

O que dizem os estudos científicos?

As evidências mais recentes confirmam:

  • Pieloplastia minimamente invasiva: em crianças e lactentes, apresenta resultados equivalentes à via aberta, com menos dor, menor sangramento e internação reduzida [,¹²].
  • Refluxo vesicoureteral: estudos e meta-análises mostram que as técnicas minimamente invasivas têm menor tempo cirúrgico e de internação, com taxa de sucesso semelhante [,¹¹].
  • Cirurgia robótica pediátrica: oferece melhor ergonomia e precisão, o que reduz complicações e facilita suturas finas em tecidos pequenos e frágeis [³,¹⁰].

Esses achados reforçam que, em mãos experientes, a cirurgia minimamente invasiva é segura e eficaz, permitindo que as crianças se recuperem mais rápido e com menos impacto emocional para a família.

Como é o preparo da criança e da família?

Antes da cirurgia, o preparo é cuidadosamente planejado:

  • Avaliação clínica e exames de imagem (como ultrassom, ressonância abdominal e cintilografia renal);
  • Explicação detalhada para a família sobre o procedimento;
  • Orientações sobre jejum, medicações e chegada ao hospital;
  • Avaliação e apoio da equipe de anestesia pediátrica;
  • Conversa com os pais, esclarecendo dúvidas com expectativa realista. A cirurgia minimamente invasiva diminui os desconfortos, mas não elimina totalmente o incômodo — e que a equipe estará presente lado a lado para controlar a dor e orientar cada passo.

Essa etapa é essencial para reduzir a ansiedade e garantir um processo acolhedor e seguro.

O pós-operatório: o que esperar?

  • Recuperação mais rápida: a criança levanta, se alimenta e caminha mais cedo;
  • Menos dor: necessidade menor de analgésicos e retorno mais breve à rotina escolar;
  • Cicatrizes discretas: pequenas incisões, muitas vezes escondidas no umbigo;
  • Alta hospitalar precoce: em muitos casos, no dia seguinte;
  • Acompanhamento contínuo: revisão da cicatrização e exames de controle para avaliar o sucesso do procedimento.

Quando a cirurgia minimamente invasiva é especialmente indicada?

  • Estenose de JUP (pieloplastia);
  • Refluxo vesicoureteral (endoscópica ou robótica);
  • Testiculo não descido; 
  • Varicocele;
  • Cálculo urinário;
  • Nefrectomia em rim atrófico ou não funcionante.

Nessas situações, a via minimamente invasiva pode proporcionar recuperação acelerada e menor impacto físico e emocional.

Segurança, equipe e hospital: o tripé que faz a diferença

A segurança depende de três pilares:

  1. Indicação adequada (escolher a melhor técnica para cada caso);
  2. Equipe experiente em urologia pediátrica;
  3. Hospital preparado para crianças, com equipamentos compatíveis e suporte multidisciplinar.

Estudos internacionais confirmam que centros com maior volume de casos e profissionais especializados apresentam melhores resultados em cirurgia pediátrica¹⁴.

Perguntas frequentes (FAQ)

1) O robô faz a cirurgia “sozinho”?
Não. O robô não opera sozinho. Ele é um instrumento controlado 100% pelo cirurgião, que comanda os braços robóticos a partir de um console. A vantagem está na precisão e na visão 3D em alta definição, o que ajuda em reconstruções delicadas [³,¹⁰,¹²].

2) Cirurgia minimamente invasiva sempre é melhor que a aberta?
Nem sempre. A melhor via é a que oferece mais segurança e eficácia para o caso da sua criança, levando em conta idade, diagnóstico, anatomia e experiência da equipe. Em muitas indicações, as vias minimamente invasivas apresentam recuperação mais rápida com sucesso equivalente [²,¹¹,¹²].

3) O plano de saúde cobre cirurgia robótica?
A cobertura depende do contrato e de normas vigentes. A cirurgia robótica ainda não está listada universalmente nos rolês de cobertura automática e pode exigir avaliação específica do convênio. O médico da família e a instituição hospitalar orientam as etapas administrativas (e eventuais alternativas terapêuticas) caso a caso.

4) Crianças pequenas também podem fazer cirurgia robótica/laparoscópica?
Sim, em centros experientes e com instrumental pediátrico. A literatura já descreve resultados seguros e eficazes inclusive em lactentes para procedimentos como pieloplastia, com benefícios de recuperação [,¹²].

5) Quais sinais indicam que devo procurar um uropediatra?
Infecções urinárias de repetição, dor abdominal/flanco, sangue na urina, jato fraco, distensão de bexiga, alterações no ultrassom (ex.: dilatação dos rins), perda urinária persistente fora da idade esperada ou atraso no controle do xixi justificam avaliação.

Palavra da especialista

“Como urologista pediátrica, acredito que cada detalhe importa: da indicação correta ao cuidado com a dor, do tamanho do instrumental à sutura perfeita.

As técnicas minimamente invasivas nos permitem cuidar melhor e recuperar mais rápido, preservando a infância.

Minha prioridade é ouvir a família, explicar cada etapa e conduzir com segurança do planejamento ao pós-operatório, sempre com eficiência, cuidado e sensibilidade.”

Quando procurar um urologista pediátrico?

Procure avaliação especializada se a criança apresentar:

  • Infecções urinárias de repetição;
  • Dor abdominal ou lombar;
  • Sangue na urina;
  • Alterações no ultrassom (como dilatação dos rins);
  • Dificuldade para urinar ou esvaziar a bexiga.

Um diagnóstico precoce pode evitar complicações e permitir o tratamento mais adequado — muitas vezes por via minimamente invasiva.

Um novo olhar sobre o cuidado cirúrgico infantil

A cirurgia urológica minimamente invasiva representa um avanço significativo na forma de cuidar das crianças. Ela alia tecnologia, segurança e sensibilidade, promovendo um tratamento mais humanizado, com menos dor e mais esperança.

Com acompanhamento especializado e estrutura adequada, é possível transformar o momento da cirurgia em um passo de recuperação leve e seguro — um novo capítulo na jornada de saúde infantil.

Referências

¹ Fuchs ME et al. Robotics in Pediatric Urology. Int Braz J Urol. SciELO

² Pogorelić Z et al. Advances and Future Challenges of Minimally Invasive Surgery in Children. Children (Basel). PMC

³ Sociedade Brasileira de Urologia – Departamento de Terapia Minimamente Invasiva. SBU

⁴ Babu R et al. Laparoscopic/Endoscopic vs Transvesical Ureteral Reimplantation in Children. J Pediatr Urol. PubMed

⁵ Ortiz-Seller D et al. Open vs Minimally Invasive Pyeloplasty in Infants. J Pediatr Urol. PubMed

⁶ Hospital Israelita Albert Einstein – Centro de Cirurgia Robótica. Einstein

⁷ Sociedade Brasileira de Urologia – Livro de Uropediatria. SBU

⁸ Feng S et al. Minimally Invasive vs Open Ureteral Reimplantation in Children. Front Pediatr. PubMed

⁹ Lee DJ et al. Current Trends in Pediatric Minimally Invasive Urologic Surgery. Curr Urol Rep. PMC

¹⁰ Simmons KL et al. Open vs Minimally-Invasive Techniques in Pediatric Urologic Oncology. Children (Basel). PMC

¹¹ Tejwani R et al. Impact of Pediatric Sub-specialization on Outcomes. J Pediatr Urol. PMC

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Publicado por: Dra. Marilyse Fernandes
Cirurgia Pediátrica (CRM 92676 | RQE 21334) A Dra Marilyse Fernandes é médica especialista em cirurgia pediátrica e robótica, dedicada à urologia infantil com experiência em hidronefrose congênita, malformações genitais e disfunções miccionais. Formada pela Universidade Estadual de Londrina, Doutora em Ciências da Reabilitação pela Universidade de São Paulo (USP) e Pós Graduada em Cirurgia Robótica pelo Hospital Israelita Albert Einstein.

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