Cirurgia urológica minimamente invasiva em crianças: o que é e por que importa
A ideia de uma cirurgia sempre desperta preocupação nos pais, especialmente quando envolve uma criança. O medo da anestesia, o tempo de internação e o desconforto no pós-operatório costumam ser as principais angústias diante da necessidade de um procedimento urológico.
Mas a uropediatria tem passado por uma verdadeira revolução. Com o avanço das técnicas minimamente invasivas, permitiu-se tratar diversas condições com cortes menores, recuperação mais rápida e menos dor[¹–⁵].
Neste conteúdo, você vai entender o que é a cirurgia urológica minimamente invasiva, em quais casos ela é indicada e como tem transformado a experiência de recuperação das crianças, trazendo mais segurança e conforto para toda a família.
Como essas técnicas funcionam? (e quando são indicadas?)
1) Endoscopia urológica: tratamento sem cortes e recuperação rápida
Procedimentos realizados por dentro do canal urinário, sem cortes. Utiliza-se uma câmera delicada, adaptada ao tamanho da criança, e instrumentos finos.
Principais indicações:
- Válvula de uretra posterior (VUP) – correção da obstrução que pode comprometer rins e bexiga;
- Ureterocele – punção da “bolsinha” de xixi que se forma dentro da bexiga, liberando o fluxo urinário;
- Refluxo vesicoureteral – tratamento com injeção de substância biocompatível no orifício do ureter;
- Cálculo urinário – retirada ou fragmentação de pedras na bexiga, ou no rim.
Benefícios: geralmente, o paciente tem alta em até 24 horas, sente menos dor e retoma as atividades rapidamente [³,⁹].
2) Laparoscopia: pequenas incisões, grandes resultados
A laparoscopia é uma técnica realizada por meio de pequenas incisões, pelas quais são introduzidas uma câmera e instrumentos cirúrgicos.
Exemplos de cirurgias laparoscópicas em crianças:
- Pieloplastia para correção da estenose da junção ureteropiélica (JUP);
- Nefrectomia (remoção de rim não funcional);
- Correção de testículos localizados dentro do abdome.
- Correção de varicocele (ligadura das varizes escrotais dentro do abdome)
Vantagens: menos dor, menor sangramento, cicatrizes discretas e recuperação muito mais rápida, com taxas de sucesso equivalentes à cirurgia aberta [³–⁵,⁹–¹²].
3) Cirurgia robótica: precisão e recuperação com conforto
A cirurgia robótica é a evolução da laparoscopia. O cirurgião opera em um console, controlando braços robóticos que oferecem visão 3D ampliada e movimentos de altíssima precisão, indicada especialmente para reconstruções delicadas ou de difícil acesso.
Indicações comuns:
- Pieloplastia robótica (estenose de JUP);
- Reimplante ureteral robótico em casos de refluxo severo;
- Nefrectomia robótica parcial ou completa permite a retirada de parte do rim que apresenta comprometimento.
Resultados: a literatura médica mostra menor tempo de internação, menor dor pós-operatória e recuperação mais rápida, com a mesma taxa de sucesso da via aberta [³–⁵,¹⁰–¹²].
Em resumo, na uropediatria, endoscopia resolve problemas “por dentro”, laparoscopia é excelente para “retirar ou reparar”, e a robótica brilha quando é preciso reconstruir com precisão milimétrica.
O que dizem os estudos científicos?
As evidências mais recentes confirmam:
- Pieloplastia minimamente invasiva: em crianças e lactentes, apresenta resultados equivalentes à via aberta, com menos dor, menor sangramento e internação reduzida [⁵,¹²].
- Refluxo vesicoureteral: estudos e meta-análises mostram que as técnicas minimamente invasivas têm menor tempo cirúrgico e de internação, com taxa de sucesso semelhante [⁴,¹¹].
- Cirurgia robótica pediátrica: oferece melhor ergonomia e precisão, o que reduz complicações e facilita suturas finas em tecidos pequenos e frágeis [³–⁵,¹⁰].
Esses achados reforçam que, em mãos experientes, a cirurgia minimamente invasiva é segura e eficaz, permitindo que as crianças se recuperem mais rápido e com menos impacto emocional para a família.
Como é o preparo da criança e da família?
Antes da cirurgia, o preparo é cuidadosamente planejado:
- Avaliação clínica e exames de imagem (como ultrassom, ressonância abdominal e cintilografia renal);
- Explicação detalhada para a família sobre o procedimento;
- Orientações sobre jejum, medicações e chegada ao hospital;
- Avaliação e apoio da equipe de anestesia pediátrica;
- Conversa com os pais, esclarecendo dúvidas com expectativa realista. A cirurgia minimamente invasiva diminui os desconfortos, mas não elimina totalmente o incômodo — e que a equipe estará presente lado a lado para controlar a dor e orientar cada passo.
Essa etapa é essencial para reduzir a ansiedade e garantir um processo acolhedor e seguro.
O pós-operatório: o que esperar?
- Recuperação mais rápida: a criança levanta, se alimenta e caminha mais cedo;
- Menos dor: necessidade menor de analgésicos e retorno mais breve à rotina escolar;
- Cicatrizes discretas: pequenas incisões, muitas vezes escondidas no umbigo;
- Alta hospitalar precoce: em muitos casos, no dia seguinte;
- Acompanhamento contínuo: revisão da cicatrização e exames de controle para avaliar o sucesso do procedimento.
Quando a cirurgia minimamente invasiva é especialmente indicada?
- Estenose de JUP (pieloplastia);
- Refluxo vesicoureteral (endoscópica ou robótica);
- Testiculo não descido;
- Varicocele;
- Cálculo urinário;
- Nefrectomia em rim atrófico ou não funcionante.
Nessas situações, a via minimamente invasiva pode proporcionar recuperação acelerada e menor impacto físico e emocional.
Segurança, equipe e hospital: o tripé que faz a diferença
A segurança depende de três pilares:
- Indicação adequada (escolher a melhor técnica para cada caso);
- Equipe experiente em urologia pediátrica;
- Hospital preparado para crianças, com equipamentos compatíveis e suporte multidisciplinar.
Estudos internacionais confirmam que centros com maior volume de casos e profissionais especializados apresentam melhores resultados em cirurgia pediátrica¹⁴.
Perguntas frequentes (FAQ)
1) O robô faz a cirurgia “sozinho”?
Não. O robô não opera sozinho. Ele é um instrumento controlado 100% pelo cirurgião, que comanda os braços robóticos a partir de um console. A vantagem está na precisão e na visão 3D em alta definição, o que ajuda em reconstruções delicadas [³–⁵,¹⁰,¹²].
2) Cirurgia minimamente invasiva sempre é melhor que a aberta?
Nem sempre. A melhor via é a que oferece mais segurança e eficácia para o caso da sua criança, levando em conta idade, diagnóstico, anatomia e experiência da equipe. Em muitas indicações, as vias minimamente invasivas apresentam recuperação mais rápida com sucesso equivalente [²–⁵,¹¹,¹²].
3) O plano de saúde cobre cirurgia robótica?
A cobertura depende do contrato e de normas vigentes. A cirurgia robótica ainda não está listada universalmente nos rolês de cobertura automática e pode exigir avaliação específica do convênio. O médico da família e a instituição hospitalar orientam as etapas administrativas (e eventuais alternativas terapêuticas) caso a caso⁸.
4) Crianças pequenas também podem fazer cirurgia robótica/laparoscópica?
Sim, em centros experientes e com instrumental pediátrico. A literatura já descreve resultados seguros e eficazes inclusive em lactentes para procedimentos como pieloplastia, com benefícios de recuperação [⁵,¹²].
5) Quais sinais indicam que devo procurar um uropediatra?
Infecções urinárias de repetição, dor abdominal/flanco, sangue na urina, jato fraco, distensão de bexiga, alterações no ultrassom (ex.: dilatação dos rins), perda urinária persistente fora da idade esperada ou atraso no controle do xixi justificam avaliação.
Palavra da especialista
“Como urologista pediátrica, acredito que cada detalhe importa: da indicação correta ao cuidado com a dor, do tamanho do instrumental à sutura perfeita.
As técnicas minimamente invasivas nos permitem cuidar melhor e recuperar mais rápido, preservando a infância.
Minha prioridade é ouvir a família, explicar cada etapa e conduzir com segurança do planejamento ao pós-operatório, sempre com eficiência, cuidado e sensibilidade.”
Quando procurar um urologista pediátrico?
Procure avaliação especializada se a criança apresentar:
- Infecções urinárias de repetição;
- Dor abdominal ou lombar;
- Sangue na urina;
- Alterações no ultrassom (como dilatação dos rins);
- Dificuldade para urinar ou esvaziar a bexiga.
Um diagnóstico precoce pode evitar complicações e permitir o tratamento mais adequado — muitas vezes por via minimamente invasiva.
Um novo olhar sobre o cuidado cirúrgico infantil
A cirurgia urológica minimamente invasiva representa um avanço significativo na forma de cuidar das crianças. Ela alia tecnologia, segurança e sensibilidade, promovendo um tratamento mais humanizado, com menos dor e mais esperança.
Com acompanhamento especializado e estrutura adequada, é possível transformar o momento da cirurgia em um passo de recuperação leve e seguro — um novo capítulo na jornada de saúde infantil.
Referências
¹ Fuchs ME et al. Robotics in Pediatric Urology. Int Braz J Urol. SciELO
² Pogorelić Z et al. Advances and Future Challenges of Minimally Invasive Surgery in Children. Children (Basel). PMC
³ Sociedade Brasileira de Urologia – Departamento de Terapia Minimamente Invasiva. SBU
⁴ Babu R et al. Laparoscopic/Endoscopic vs Transvesical Ureteral Reimplantation in Children. J Pediatr Urol. PubMed
⁵ Ortiz-Seller D et al. Open vs Minimally Invasive Pyeloplasty in Infants. J Pediatr Urol. PubMed
⁶ Hospital Israelita Albert Einstein – Centro de Cirurgia Robótica. Einstein
⁷ Sociedade Brasileira de Urologia – Livro de Uropediatria. SBU
⁸ Feng S et al. Minimally Invasive vs Open Ureteral Reimplantation in Children. Front Pediatr. PubMed
⁹ Lee DJ et al. Current Trends in Pediatric Minimally Invasive Urologic Surgery. Curr Urol Rep. PMC
¹⁰ Simmons KL et al. Open vs Minimally-Invasive Techniques in Pediatric Urologic Oncology. Children (Basel). PMC
¹¹ Tejwani R et al. Impact of Pediatric Sub-specialization on Outcomes. J Pediatr Urol. PMC







