O que é a duplicidade ureteral?
A duplicidade ureteral é uma malformação congênita que ocorre quando dois ureteres se formam a partir de um único rim (Figura 1), ao invés de um ureter, o que é a anatomia normal. O ureter é o canal responsável por transportar a urina do rim até a bexiga. Quando a duplicidade ureteral acontece, ela pode ser classificada em parcial ou completa.
Na duplicidade parcial, dois ureteres se formam, mas se fundem em algum ponto antes de chegar à bexiga, formando um só canal. Já na duplicidade completa, os dois ureteres permanecem separados até chegarem à bexiga, o que pode aumentar a chance de complicações urinárias, como infecções e refluxo vesicoureteral. Em muitos casos, a duplicidade ureteral não causa sintomas e só é detectada por acaso durante exames de rotina ou na ultrassonografia pré-natal.
Essa condição é congênita e pode estar associada a outras anomalias do trato urinário, como a ureterocele, que é uma dilatação de um dos ureteres no ponto de inserção na bexiga, e ao refluxo vesicoureteral, que é o retorno da urina da bexiga para os rins. Ambas as condições aumentam o risco de infecções urinárias e podem comprometer a função renal a longo prazo. Além disso, um dos ureteres duplicados pode desembocar na vagina ou uretra, condição chamada de ectopia ureteral, o que provoca incontinência urinária manifestada por perdas constantes de urina na roupa.

Causas da duplicidade ureteral
A duplicidade ureteral é um problema que se desenvolve ainda na fase embrionária, durante a gestação, quando o sistema urinário está sendo formado. Por ser uma condição congênita, não há como prevenir, mas entender as alterações da anatomia são fundamentais para o acompanhamento adequado.
Durante o desenvolvimento fetal, os rins e os ureteres passam por uma fase complexa de formação. Em algumas crianças, essa formação resulta em dois ureteres saindo de um único rim. Não há uma causa específica identificada para essa malformação, mas em alguns casos, pode haver um fator genético envolvido. Crianças com histórico familiar de malformações renais ou outras anomalias congênitas no sistema urinário podem ter um risco aumentado de desenvolver essa condição.

Sintomas da duplicidade ureteral
Muitas crianças com duplicidade ureteral não apresentam sintomas sérios e, em alguns casos, podem nunca ter problemas relacionados a essa condição. No entanto, outras podem sofrer com complicações que variam em gravidade. Alguns dos sintomas mais comuns são:
- Infecções urinárias recorrentes: as crianças podem apresentar infecções frequentes devido à retenção da urina, causado pelo bloqueio ou refluxo urinário.
- Dor abdominal ou lombar: a presença de uma ureterocele ou o bloqueio ao fluxo urinário pode causar desconforto, ou dor abdominal ou na região lombar
- Incontinência urinária: a dificuldade em controlar a urina também pode estar presente, principalmente em casos de duplicidade completa, em que um dos ureteres está posicionado fora da bexiga, provocando gotejamento contínuo da urina pelo genital.
- Hematúria: a presença de sangue na urina, conhecida como hematúria, pode ser um sinal de complicações no trato urinário, como infecções ou irritação nos ureteres.
- Refluxo vesicoureteral: o retorno da urina da bexiga para os rins, que pode danificar os rins ao longo do tempo se não for tratado.
Em casos mais graves, especialmente quando há obstrução completa ou refluxo severo, a duplicidade ureteral pode prejudicar o desenvolvimento dos rins, resultando em perda parcial ou total da função renal.
Diagnóstico da duplicidade ureteral
O diagnóstico da duplicidade ureteral é, muitas vezes, feito de forma incidental, durante exames de rotina ou no pré-natal, através de ultrassonografia gestacional. Quando se suspeita da condição, especialmente em crianças com antecedente de hidronefrose antenatal, infecções urinárias recorrentes, incontinência urinária ou outros problemas do trato urinário, são realizados exames mais específicos para confirmar o diagnóstico e avaliar as consequências da duplicidade.
- Ultrassonografia abdominal: este é o exame de imagem mais comum e menos invasivo, usado para observar os rins e as demais estruturas que compõem o trato urinário. A duplicidade pode ser visualizada claramente, assim como possíveis complicações, como ureteroceles.
- Uretrocistografia miccional: um exame que avalia o fluxo de urina da bexiga para fora. Ele possibilita diagnosticar refluxo vesicoureteral e também verificar se há bloqueios na bexiga ou uretra.
- Cintilografia renal: método que permite avaliar a função de cada uma das unidades renais duplicadas, informando sobre cicatrizes renais e ritmo de eliminação urinária em cada um dos rins.
- Ressonância magnética: em alguns casos, uma ressonância pode ser indicada para obter imagens detalhadas dos ureteres e da bexiga, especialmente se houver dúvidas sobre a anatomia da duplicidade.
- Exames de urina: são realizados para detectar infecções urinárias e outros sinais de problemas renais.
Esses exames ajudam a determinar o melhor curso de tratamento para cada paciente.

Tratamentos da duplicidade ureteral
Nem todos os casos de duplicidade ureteral precisam de tratamento. Quando a criança não apresenta sintomas ou complicações, a conduta mais comum é o acompanhamento regular, com exames periódicos para monitorar o desenvolvimento do sistema urinário e prevenir problemas futuros.
No entanto, se houver complicações, como infecções frequentes, refluxo vesicoureteral, incontinência urinária ou bloqueios no livre fluxo urinário, cirurgias podem ser necessárias. As principais opções de tratamento incluem procedimentos endoscópicos, cirurgias abertas e robóticas:
- Punção endoscópica da ureterocele: em casos onde há uma ureterocele, uma bolsa cheia de urina, que se forma dentro da bexiga, no local de drenagem dos ureteres (Figura 3), pode ser indicada a punção esvaziadora. Isso ajuda a desobstruir o ureter e normalizar o fluxo da urina para a bexiga.
- Reimplante ureteral: essa cirurgia é indicada para corrigir o refluxo vesicoureteral, reposicionando o ureter em um ponto mais adequado na bexiga, para que a urina não volte para os rins.
- Uretero-ureteroanastomose: essa cirurgia conecta dois ureteres de um mesmo rim, permitindo que a urina siga por um só caminho até a bexiga. É indicada em casos de duplicidade completa quando apenas um dos ureteres está muito comprometido.
- Nefrectomia parcial: em situações mais graves, onde uma parte do rim é severamente danificada e não pode ser preservada, a remoção parcial do rim pode ser recomendada.
O objetivo de qualquer tratamento cirúrgico é restaurar o fluxo normal de urina, prevenir infecções futuras e preservar ao máximo a função renal. Após a cirurgia, o acompanhamento é essencial para garantir a recuperação completa e monitorar o desenvolvimento dos rins ao longo do tempo.

A duplicidade ureteral em crianças
Embora a duplicidade ureteral seja uma das malformações mais comuns do sistema urinário, é importante lembrar que cada caso é único. A maioria das crianças com essa condição pode levar uma vida normal, sem maiores complicações. No entanto, ações como diagnóstico precoce e preciso, planejamento terapêutico e o acompanhamento com uropediatra são fundamentais para os melhores resultados diante das particularidades de apresentação do problema em cada criança.
O tratamento personalizado¹ e o cuidado regular garantem que a condição seja controlada da melhor forma possível, proporcionando uma boa qualidade de vida para a criança. Com o avanço das técnicas cirúrgicas minimamente invasivas, os tratamentos são cada vez mais seguros e eficazes, garantindo uma recuperação mais rápida e menos dolorosa.
Eu sou a Dra. Marilyse Fernandes
Tenho mais de 20 anos de experiência em urologia pediátrica, cuidando com dedicação de crianças com problemas urológicos, sempre empregando as melhores e mais atuais tecnologias minimamente invasivas, como a cirurgia robótica. Meu foco sempre foi oferecer um atendimento humanizado e de alta qualidade, priorizando o conforto e a saúde das crianças e de suas famílias. Cada paciente é único, e meu compromisso é oferecer o melhor tratamento possível, de forma acolhedora e menos invasiva.