Fimose em crianças: o que é e quando merece atenção

A fimose é uma condição bastante comum em meninos, principalmente nos primeiros anos de vida. Ela acontece quando a pele que recobre a ponta do pênis (prepúcio) não consegue ser retraída, dificultando a exposição da glande.

Em bebês e meninos pequenos, essa condição é considerada fisiológica — ou seja, faz parte do desenvolvimento natural. Com o crescimento, a pele tende a se soltar espontaneamente, permitindo a retração normal. Em muitos casos, isso acontece até os 3 a 5 anos, sem necessidade de intervenção.

Estudos mostram que cerca de 90% dos meninos já apresentam prepúcio retrátil por volta dos 3 anos, restando apenas uma minoria com fimose persistente que pode necessitar de avaliação médica¹.

No entanto, em algumas situações, a fimose pode persistir ou causar complicações, exigindo avaliação de um urologista pediátrico para definir se há necessidade de tratamento ou cirurgia.

Neste artigo, você vai descobrir como identificar sinais da fimose no seu filho, quais são as possibilidades de tratamento e quando a cirurgia realmente se torna necessária.

O que é a fimose?

A fimose é a dificuldade ou impossibilidade de expor a glande do pênis porque o prepúcio não desliza normalmente.

Tipos de fimose

  • Fimose fisiológica: presente na maioria dos meninos ao nascimento. É normal e costuma se resolver naturalmente.
  • Fimose patológica: ocorre quando a pele do prepúcio apresenta cicatrizes, estreitamentos ou aderências que impedem a retração, mesmo após a idade esperada. Isso ocorre porque existe um estreitamento na pele do pênis, causado por um anel que provoca uma constrição.

É importante diferenciar essas duas situações, pois apenas a forma patológica pode exigir intervenção médica.

Causas, sintomas e diagnóstico

Quais são as causas?

Na infância, a principal causa é a falha no desenvolvimento natural do prepúcio, que tende a se soltar progressivamente. Já em casos de fimose patológica, as causas podem estar ligadas a:

  • Infecções locais de repetição (balanites).
  • Traumas ou retrações forçadas da pele.
  • Cicatrizes que deixam a pele endurecida e estreita.

Embora muitos meninos não apresentem sintomas, estudos apontam que a presença de fimose patológica está associada a um risco aumentado de infecção urinária, especialmente no primeiro ano de vida².

Como identificar os sintomas?

Na maioria dos meninos, a fimose não causa sintomas. Entretanto, alguns sinais podem chamar a atenção:

  • Inchaço na ponta do pênis durante a micção (balonamento).
  • Inflamações locais (vermelhidão, dor, secreção).
  • Dificuldade para urinar ou jato de urina fraco.
  • Infecções urinárias de repetição.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico da fimose é clínico e realizado pelo pediatra ou uropediatra durante a consulta. Não são necessários exames específicos. A avaliação consiste em observar se há retração do prepúcio e se existem sinais de complicações.

Quando o tratamento é necessário e quais são as opções disponíveis?

Nem toda fimose precisa de tratamento imediato. Na maioria das vezes, basta acompanhamento. Mas a intervenção pode ser indicada quando:

  • A criança já passou dos 5 anos e ainda não consegue retrair a pele.
  • Há sintomas urinários ou infecções recorrentes.
  • O prepúcio apresenta cicatrizes que dificultam a abertura.

Tratamentos disponíveis

  1. Acompanhamento clínico: em casos fisiológicos, o pediatra orienta apenas observação e higiene adequada.
  2. Uso de pomadas com corticoide: pode ajudar a amolecer a pele e facilitar a retração. Vários estudos mostram taxas de sucesso entre 65% e 95% no tratamento com corticoides tópicos, reduzindo significativamente a necessidade de cirurgia³.
  3. Cirurgia (postectomia ou circuncisão): indicada nos casos em que não há melhora com os métodos conservadores ou quando há complicações.

Como funciona a cirurgia de fimose?

A cirurgia para corrigir a fimose é chamada de postectomia (ou circuncisão). Trata-se da retirada parcial ou total do prepúcio para expor a glande.

  • Procedimento: realizado em ambiente hospitalar, sob anestesia.
  • Duração: geralmente entre 30 e 40 minutos.
  • Alta: a criança costuma receber alta no mesmo dia.

A técnica utilizada pode variar conforme a idade da criança e as características da fimose e do pênis, mas o objetivo é sempre o mesmo: garantir que a glande fique exposta de forma segura e sem risco de estreitamento futuro.

O que esperar do pós-operatório?

O período após a cirurgia costuma ser tranquilo, mas requer alguns cuidados:

  • Dor e inchaço: são leves a moderados e controlados com analgésicos comuns.
  • Crostas na glande: são placas amarelo-esbranquiçadas, formadas nos locais onde o prepúcio foi descolado. Fazem parte do processo de cicatrização e ocorrem com  muita frequência.
  • Curativo: geralmente simples, trocado diariamente conforme orientação médica.
  • Atividades: a criança pode retornar às atividades leves em poucos dias, mas brincadeiras mais agitadas devem ser evitadas por cerca de 2 semanas.
  • Cicatrização: completa em 3 a 4 semanas.

O acompanhamento médico após a cirurgia é essencial para garantir boa cicatrização e tranquilidade para a família.

Perguntas frequentes sobre fimose

1. Todo menino nasce com fimose?

Sim, a maioria dos meninos nasce com o prepúcio não retrátil, o que é considerado normal nos primeiros anos de vida.

2. A cirurgia é sempre necessária?

Não. A maioria dos casos se resolve sozinha. A cirurgia só é indicada quando há sintomas, complicações ou falha dos tratamentos clínicos.

3. A cirurgia é dolorosa?

Não. O procedimento é feito sob anestesia, e no pós-operatório a dor costuma ser leve, controlada com medicação simples.

4. A fimose pode voltar após a cirurgia?

Não. Uma vez feita a postectomia e realizados os cuidados pós-operatórios de forma correta, a glande permanece exposta.

5. É possível evitar a fimose?

Não há como evitar a forma fisiológica, pois ela é natural. O que nunca deve ser feito são as massagens ou as retrações forçadas, que podem causar cicatrizes e transformar a fimose fisiológica em patológica. Além de não evitar, provoca traumas físicos e emocionais, devido à intensa dor que causa.

Palavra da especialista

Como cirurgiã dedicada à urologia pediátrica, sei que falar sobre cirurgia em crianças gera muitas dúvidas e inseguranças. Sempre reforço aos pais que a fimose, na maioria das vezes, é uma condição passageira e que se resolve naturalmente. Quando há necessidade de intervir, buscamos a solução mais segura e adequada para cada criança, priorizando sempre o conforto, a recuperação rápida e o bem-estar.

O mais importante é que os pais não se sintam sozinhos nesse processo. Cada criança é avaliada de forma individual, e juntos encontramos o melhor caminho para o desenvolvimento saudável da criança.

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Se você tem dúvidas sobre a saúde urológica do seu filho ou recebeu o diagnóstico de fimose, estou à disposição para orientar com clareza e responsabilidade. O atendimento é feito de forma acolhedora, segura e totalmente voltado ao bem-estar das crianças e de suas famílias.

Referências

¹:Yang SS, Tsai YC, Wu CC. Foreskin development before adolescence in 2149 schoolboys. Int J Urol. 2014;21(6):585-590.

²: Morris BJ, Wiswell TE. Circumcision and lifetime risk of urinary tract infection: a systematic review and meta-analysis. J Urol. 2013;189(6):2118-2124.

³: Radojicic ZI, Perovic SV. Topical steroid treatment of phimosis in boys. J Pediatr Urol. 2014;10(2):250-253.

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    Publicado por: Dra. Marilyse Fernandes
    Cirurgia Pediátrica (CRM 92676 | RQE 21334) A Dra Marilyse Fernandes é médica especialista em cirurgia pediátrica e robótica, dedicada à urologia infantil com experiência em hidronefrose congênita, malformações genitais e disfunções miccionais. Formada pela Universidade Estadual de Londrina, Doutora em Ciências da Reabilitação pela Universidade de São Paulo (USP) e Pós Graduada em Cirurgia Robótica pelo Hospital Israelita Albert Einstein.

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