Meu filho nasceu com hipospádia! - Dra. Marilyse Fernandes

Meu filho nasceu com hipospádia!

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Por: CRM 92676 | RQE 21334

Deparar-se com uma malformação genital em um filho pode provocar angústia e apreensão. Mas não se culpe! Vou lhe mostrar as principais causas, algumas características desta condição mas acima de tudo, a melhor notícia é que existe tratamento para hipospadia e nós podemos lhe ajudar. 

A hipospádia é um defeito do desenvolvimento anatômico do penis, ocorrendo durante a gestação, entre 8ªa 20ª semanas. É caracterizada pela abertura da uretra, chamada de meato uretral, não localizar-se na ponta do pênis, como é esperado, mas em uma posição mais abaixo, ou seja, na face ventral do pênis. A uretra é o canal que transporta a urina para fora do corpo, portanto, ao estar na pontinha do pipi, lá na frente, permitirá que a criança urine em pé e o jato urinário saia para frente, com mais direção, potência e controle. 

Quando a formação da uretra é incompleta, o meato uretral não atinge a ponta do pênis, e dessa forma pode terminar em qualquer ponto ao longo da extensão, desde o início no períneo, abaixo do escroto. Adicionalmente, o penis pode apresentar-se pequeno, encurvado e com outras anormalidades urológicas associadas. Essa condição pode variar em gravidade e pode afetar tanto a aparência quanto a função do órgão genital masculino. Além disso, poderá haver comprometimento do ponto de vista psicológico, a partir do momento em que a criança começa a se comparar aos outros meninos. 

A hipospádia é uma condição congênita, ou seja, está presente desde o nascimento, e suas causas podem ser influenciadas por uma combinação de fatores genéticos e ambientais durante o desenvolvimento fetal.

Fatores Causadores da Hipospádia:

As causas da hipospádia na maioria dos bebês são desconhecidas. Na maioria dos casos, acredita-se que a hipospádia ocorra por uma combinação de alterações em genes associada a outros fatores ambientais, com as quais a gestante entrou em contato.

  • Fatores Genéticos: Existe uma forte evidência de que a hipospádia pode ter uma predisposição genética. Casos de hipospádia podem ocorrer em famílias, sugerindo a presença de fatores hereditários. Se um pai teve hipospádia, a probabilidade de um filho desenvolver a condição pode ser ligeiramente aumentada.
  • Fatores Hormonais: Durante o desenvolvimento fetal, os hormônios desempenham um papel crucial na formação dos órgãos genitais. Disfunções nos níveis hormonais durante a gestação podem afetar o desenvolvimento normal da uretra e resultar na hipospádia. Alguns estudos sugerem que exposição a certos produtos químicos ambientais que interferem nos hormônios pode estar associada à hipospádia.
  • Fatores Ambientais e Exposições durante a Gravidez: Exposição a certas substâncias durante a gravidez podem influenciar o desenvolvimento fetal e aumentar o risco de hipospádia. Essas substâncias podem incluir certos medicamentos, produtos químicos ambientais, tabagismo ou consumo de álcool durante a gestação. Além disso, observa-se maior risco do bebê apresentar hipospádia, nas gestantes com mais de 35 anos, obesas. Verifica-se aumento do risco de hipospadia, quando técnicas de reprodução assistida são necessárias.

Classificação da Hipospádia:

A hipospádia é classificada principalmente com base na localização da abertura uretral em relação à ponta do pênis, mas alguns outros detalhes anatômicos são fundamentais para o plano terapêutico. Alguns dos tipos mais comuns incluem:

  • Hipospádia Glandular: A abertura uretral está localizada na glande (cabeça do pênis),mas não na ponta.
  • Hipospádia Distal: A abertura uretral está na parte inferior da glande, mais próxima da ponta do pênis.
  • Hipospádia Média: A abertura uretral está localizada ao longo do corpo do pênis.
  • Hipospádia Proximal: A abertura uretral está localizada na base do pênis ou na parte escrotal.

Diagnóstico e Tratamento:

O diagnóstico da hipospádia geralmente é feito após o nascimento durante o exame físico. Em algumas circunstâncias, será necessário exames complementares, como ultrassom do aparelho urinário, dosagens hormonais e análise do cariótipo sanguíneo.

Por isso, recomenda-se logo nas primeiras semanas de vida, uma avaliação com urologista pediátrico para planejamento de todas as etapas do tratamento. Será necessário, uma ou mais cirurgias, para reconstruir a uretra e corrigir outras anormalidades penianas associadas, conforme a severidade da malformação genital. A detecção precoce proporciona um tratamento mais planejado, a indicação aos meus pacientes é que façamos a correção cirúrgica antes de começar a andar. O acompanhamento familiar no pós-operatório em parceria com o cirurgião responsável são essenciais para garantir o melhor resultado possível. 

A partir do 10º mês de vida, a correção cirúrgica de hipospádia pode ser iniciada, sendo idealmente finalizada antes que a criança complete dois anos. As complicações pós-operatórias são comuns, sendo fístula e estenose uretral as mais frequentes. São procedimentos, realizados sob anestesia geral e devem permanecer com sonda vesical por 5 a 10 dias.  Podem ser cirurgias muitas desafiadoras e que exigem dedicação, habilidade e experiência por parte do cirurgião para alcançar bons resultados, com menor taxa de complicações. Em alguns casos, pode-se fazer uso de testosterona, antes da cirurgia ou ao longo da infância, para promover aumento do tamanho peniano e melhorar a irrigação sanguínea com a finalidade aumentar sucesso da reconstrução cirúrgica. 

A detecção precoce proporciona um tratamento mais planejado, a indicação aos meus pacientes é que façamos a correção cirúrgica por volta dos 10 meses de vida, antes de começar a andar. O acompanhamento familiar no pós-operatório em parceria com o cirurgião responsável são essenciais para garantir o melhor resultado possível. 

Mas se o seu filho já nasceu faz tempo e até hoje não foram orientados sobre este problema e ele começou a descobrir a diferença entre o seu órgão genital e o dos colegas, saiba que o melhor momento é sempre aquele que nos deparamos com uma dificuldade e decidimos enfrentá-la. Encontrar um uropediatra habilitado, que aceite o desafio junto com a família é fundamental, para garantir um plano de cuidados adequado e monitorar o desenvolvimento da criança afetada pela hipospádia.

Acompanhe as publicações semanais e saiba mais sobre hipospadia e urologia pediátrica!

Até a próxima!!


Dra. Marilyse Fernandes
Publicado por: Dra. Marilyse Fernandes - Cirurgia Pediátrica - CRM 92676 | RQE 21334
A Dra Marilyse Fernandes (CRM 92676 / RQE 21334) é médica especialista em cirurgia pediátrica e robótica, dedicada à urologia infantil com experiência em hidronefrose congênita, malformações genitais e disfunções miccionais. Formada pela Universidade Estadual de Londrina, Doutora em Ciências da Reabilitação pela Universidade de São Paulo (USP) e Pós Graduada em Cirurgia Robótica pelo Hospital Israelita Albert Einstein.
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