Quais são os riscos da cirurgia robótica infantil? - Dra. Marilyse Fernandes

Quais são os riscos da cirurgia robótica infantil?

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Por: CRM 92676 | RQE 21334

Nos últimos 15 anos, a cirurgia laparoscópica assistida por robô (cirurgia robótica) tem se tornado a abordagem terapêutica de escolha para correção de muitas doenças. O sistema robótico mais representativo é a plataforma Da Vinci, aprovado aqui pela Anvisa, também é o mais amplamente utilizado em todo o mundo. Com o aumento da experiência das equipes cirúrgicas, no emprego dessa tecnologia, a superioridade da cirurgia robótica tem sido confirmada por inúmeros estudos em variados tipos de procedimentos.

Entretanto, por tratar-se de uma técnica relativamente nova e que no Brasil, somente nos últimos cinco anos, começou a se popularizar, ainda existem muitas dúvidas e equívocos sobre esta ferramenta, como por exemplo que o cirurgião é substituído pelo robô e que qualquer médico pode operar usando essa plataforma. Mas atenção! Essas duas afirmações estão incorretas!!  Todas as ações do robô são controladas pelo cirurgião, posicionado na mesa de controle com visão 3D de alta definição e através dos movimentos das suas mãos opera a distância em tempo real, os braços robóticos equipados com instrumentos cirúrgicos. E isso é possível apenas para o cirurgião que fizer um curso específico para treinamento e após realizar uma prova para obter a certificação que o autoriza a usar a plataforma robótica.

Algumas das vantagens da cirurgia minimamente invasiva laparoscópica em relação à cirurgia convencional aberta inclui menor sangramento e trauma tecidual, menor taxa de complicação pós-operatória, redução da dor, tempo de permanência no hospital mais curto e melhores resultados estéticos por causa do tamanho pequeno das incisões.  A incorporação da assistência robótica à laparoscopia pode, além disso, melhorar a exatidão e a precisão dos movimentos cirúrgicos, eliminando o tremor do cirurgião e com a possibilidade de alcançar regiões de difícil acesso, ampliando assim o emprego da tecnologia minimamente invasiva para a realização de procedimentos cirúrgicos mais complexos. https://uropediatriasp.com.br/quando-a-cirurgia-robotica-na-crianca-e-indicada/

A plataforma robótica é segura e apropriada para ser usada em procedimentos pediátricos justamente porque tais cirurgias exigem dissecção delicada e realização de sutura em espaços anatômicos muito pequenos. Consequentemente, tem sido cada vez mais empregada na urologia pediátrica, sendo a pieloplastia, a nefrectomia parcial e o reimplante ureteral robóticos os procedimentos urológicos mais frequentemente realizados nesta população.

Contudo, a expansão da cirurgia robótica na pediatria enfrenta algumas limitações, porque a evolução dos instrumentos cirúrgicos superou apenas parcialmente essas restrições. Por isso, além dos riscos gerais inerentes a qualquer procedimento cirúrgico e anestésico, existem os riscos específicos relacionados ao emprego da plataforma robótica.

Um desafio é o reduzido tamanho da parede abdominal dos bebês, com peso inferior a 6 quilos, algo que  inviabiliza a mobilidade dos braços robóticos com segurança, tornando-se um fato que contra-indica essa modalidade de tratamento.

Além disso, o tempo mais longo de cirurgia advém do preparo e etapas necessários para executar um procedimento sob assistência robótica. Como consequência, temos o impacto da pressão intra-abdominal elevada e da absorção do gás CO2 durante a cirurgia robótica, principalmente em recém-nascidos e lactentes. São os principais determinantes das alterações cardiorrespiratórias, vasculares e da função cerebral, assim como das respostas mecânicas e bioquímicas locais e sistêmicas identificadas nessa circunstância. O  gás CO2 é primordial para distender a cavidade abdominal, durante uma cirurgia minimamente invasiva, e assim criar espaço adequado para mobilidade dos instrumentos robóticos.  

Adicionalmente, alguns procedimentos exigem um posicionamento específico, como a de Trendelenburg, onde o corpo do paciente fica inclinado, entre 15 a 60 graus, com os pés elevados acima da cabeça. Diante disso, aumentos mais expressivos ainda da pressão venosa central (PVC),intraocular e intracraniana são esperados. Portanto, crianças com comorbidades do sistemas respiratório, nervoso e cardiovascular assim como com glaucoma infantil devem ser criteriosamente avaliadas e preparadas no pré-operatório. Isso porque tais condições podem ser agravadas durante e após a cirurgia, recomendando-se a estratificação do risco anestésico, para tomada de decisão sobre a possibilidade ou não de realizar a cirurgia com assistência robótica.

Aliás, estabelecer a posição correta do paciente na cirurgia robótica é um processo dinâmico, gerenciado pelo cirurgião e anestesista, e deve levar em conta a visibilidade do campo cirúrgico, possibilitar ao anestesista acesso ao paciente e minimizar o risco de trauma dos tecidos por compressão ou colisão do braços robóticos. Sendo necessário acolchoamento adequado na cabeça e face e demais pontos de pressão a fim de evitar lesões na pele, tecidos moles e nervos. 

Os pontos de acesso venoso e tubo de ventilação devem ser cuidadosamente fixados, devido a potencial dificuldade de manejo após o acoplamento do robô no paciente. A colocação de sondas gástrica e vesical são essenciais para redução do risco de perfuração acidental das estruturas e maior visibilidade do campo operatório.

Finalmente, acidentes nas punções da parede abdominal para passagem das cânulas, pode acarretar lesão de vasos sanguíneos importantes e perfuração de órgãos abdominais com eventual necessidade de conversão do procedimento para cirurgia aberta.

para vencer o desafio de realizar cirurgias complexas de forma minimamente invasiva mas com muita segurança e controle de danos e riscos.

É justamente, considerando toda a expertise e experiência necessárias, para vencer o desafio de realizar cirurgias complexas de forma minimamente invasiva, aliado à segurança e controle de danos e riscos. Reforçam a importância de realizar o procedimento em hospitais altamente qualificados e com equipes dedicadas à cirurgia robótica formada por médicos e enfermeiros treinados e tecnicamente certificados.

Para saber mais sobre este universo e entender os benefícios da cirurgia robótica na urologia pediátrica, acompanhe nossos conteúdos! 


Dra. Marilyse Fernandes
Publicado por: Dra. Marilyse Fernandes - Cirurgia Pediátrica - CRM 92676 | RQE 21334
A Dra Marilyse Fernandes (CRM 92676 / RQE 21334) é médica especialista em cirurgia pediátrica e robótica, dedicada à urologia infantil com experiência em hidronefrose congênita, malformações genitais e disfunções miccionais. Formada pela Universidade Estadual de Londrina, Doutora em Ciências da Reabilitação pela Universidade de São Paulo (USP) e Pós Graduada em Cirurgia Robótica pelo Hospital Israelita Albert Einstein.
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