A estenose da JUP é um problema que sempre causa curiosidade a partir do próprio nome. Estenose é a mesma coisa que estreitamento e JUP é a sigla usada para a junção ureteropiélica. Ou seja, a junção ureteropiélica é o local onde o rim e o ureter se conectam, e quando houver um estreitamento dessa região chamamos o problema de estenose de JUP.
A principal consequência ocasionada pela estenose da JUP é a dificuldade do xixi produzido pelo rim em seguir seu fluxo habitual pelo ureter e assim chegar na bexiga. Quando não consegue passar como deveria através da junção ureteropiélica, o xixi se acumula no rim, causando uma dilatação chamada de hidronefrose.
Obstrução congênita da JUP é usualmente causada por estenose intrínseca da junção ureteropiélica, ou seja, por um espessamento da parede ureteral e ou torção/acotovelamento da conexão do ureter com a pelve renal, resultando em obstrução ao fluxo urinário. Acredita-se que a causa da obstrução seja uma falha no desenvolvimento embriológico do ureter proximal, afetando a distribuição e composição de células musculares e fibras de colágeno dessa região. Menos frequentemente, a obstrução da JUP pode ocorrer de forma intermitente por algum pólipo localizado na luz do ureter ou por compressão extrínseca causada por uma artéria renal acessória.
Importante ressaltarmos que a estenose da JUP congênita pode manifestar-se em qualquer fase da vida, desde o momento de formação do feto até a vida adulta. Nos bebês, ainda durante a gestação, o problema pode ser suspeitado a partir dos exames de ultrassom gestacional, diante da presença de dilatação da pelve renal. Estenose de JUP é a causa mais comum de hidronefrose antenatal secundária a uma obstrução anatômica do trato urinário.
Após o nascimento, geralmente o bebê permanece assintomático, mesmo quando o grau da hidronefrose for severo. Os sintomas de dor abdominal tipo cólica, urina com sangue e infecção urinária de repetição, aparecem mais frequentemente após os quatro anos de vida, e devem sempre ser sinais de alerta para a investigação da doença.
O tratamento desse problema é cirúrgico, está indicado quando há sintomas ou se houver risco ou indícios de perda de função renal. O procedimento realizado para correção da estenose da JUP é chamado de pieloplastia. Essa técnica consiste na retirada da parte obstruída do ureter com reconstrução da conexão dele ao rim. Os resultados dessa técnica são excelentes, havendo resolução da obstrução em 90 a 95% dos casos.
Dito desta forma, pode parecer simples, mas na realidade trata-se de um procedimento que exige treinamento e experiência por parte do urologista pediátrico, além de instrumentais e equipamentos muito delicados, para que o sucesso terapêutico seja alcançado. Isso é particularmente importante quando precisamos realizar essa reconstrução em bebês com apenas poucos meses de vida.
Para isso dispomos de três maneiras para acessar o rim e fazer a correção desse problema. A pieloplastia aberta ou convencional é realizada através de uma abertura na pele (incisão) de cerca de 3 a 4 cm, logo abaixo da 12a costela, sendo geralmente indicada em bebês com peso menor que seis quilos, nos quais não observamos vantagens em realizar o procedimento por via laparoscópica.
A pieloplastia pode ser realizada por videolaparoscopia, método minimamente invasivo que, por sua vez, proporciona uma recuperação mais rápida, cicatrizes menores parecidas com pequenos furinhos e é indicada para crianças maiores, mas que não tiveram a oportunidade de realizar a cirurgia por acesso robótico.
O avanço da medicina, contudo, tem proporcionado a nós urologistas pediátricos o uso da tecnologia robótica, já amplamente utilizada em diversas cirurgias nos adultos. No caso da pieloplastia robótica, os benefícios são maiores ainda em comparação com a videolaparoscopia, tanto para a criança quanto para o cirurgião. Com o auxílio robótico, o cirurgião tem disponível uma visão 3D do rim, ureter e bexiga. Através de pinças inseridas no abdome do paciente, o médico realiza o procedimento a partir de controles presentes em um carrinho de comando (console) ao lado do paciente, transmitindo em tempo real a visão do cirurgião para uma tela. O controle robótico permite alta precisão de movimentos, excluindo tremores e proporcionando menor trauma dos tecidos, menor sangramento e maior nitidez para o cirurgião. Tudo isso, proporciona ao paciente, um procedimento minimamente invasivo, de recuperação e alta mais rápidas além de maior taxa na resolução do problema.
Para saber mais sobre a técnica robótica e em quais casos ela se aplica, acesse: Cirurgia Robótica Pediátrica, para ver como funciona, me acompanhe nas redes sociais!