O refluxo vesicoureteral (RVU) é uma condição na qual há retorno anormal da urina da bexiga para os ureteres e, em muitos casos, até para os rins. Normalmente, a urina flui da bexiga para fora do corpo através da uretra, mas na presença do RVU, a urina volta para os ureteres em direção aos rins.
Essa condição é mais comum em bebês e crianças pequenas e pode estar associada ao mau funcionamento do mecanismo que impede o retorno da urina. Ao longo dos primeiros anos de vida, em um parcela dos casos, existe a possibilidade de melhora e até desaparecimento do refluxo. O RVU aumenta o risco de infecção urinária febril, pois as bactérias presentes na bexiga podem subir até os rins. Além da possibilidade de danos como cicatrizes renais que comprometem o seu funcionamento.
Classificação do refluxo vesicoureteral
O refluxo vesicoureteral é classificado em graus de I a V, com base na intensidade do refluxo e no impacto provocado ao sistema urinário. Aqui está uma breve descrição de cada grau:
- Grau I (leve): O refluxo ocorre até o ureter mas não atinge o rim
- Grau II (moderado): O refluxo atinge rim mas não há dilatação significativa
- Grau III (moderado a grave): Há refluxo com dilatação renal moderada
- Grau IV (grave): Refluxo com dilatação renal acentuada e moderada do ureter
- Grau V (muito grave): Refluxo com dilatação acentuada do rim e tortuosidade do ureter
A classificação é importante para avaliarmos a gravidade do RVU, qual a chance de resolução espontânea do problema e assim determinar qual o plano terapêutico mais adequado para cada criança. O tratamento pode variar desde a observação cuidadosa, controle de disfunções miccionais e da constipação, uso de antibióticos profiláticos até procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos, como o tratamento endoscópico com substâncias como o Deflux® e Vantris® ou, em casos mais graves, cirurgia para reimplantar o ureter com um mecanismo anti-refluxo mais eficiente. A decisão depende de vários fatores, incluindo a idade do paciente, os sintomas e a gravidade do refluxo.
O tratamento endoscópico do RVU é uma opção cirúrgica que tem sido amplamente utilizada nas últimas duas décadas, e envolve a utilização de um procedimento chamado cistoscopia. Durante esse procedimento, realizado sob anestesia, um fino tubo rígido (cistoscópio) é introduzido na uretra até visualizarmos a entrada dos ureteres na bexiga. O objetivo do tratamento é melhorar o mecanismo anti-refluxo que não está funcionando adequadamente, por meio da injeção de um gel biocompatível na região ureteral, para dificultar o fluxo de retorno da urina para o rim.
Etapas do procedimento
Os principais passos do procedimento consistem em:
1.Cistoscopia: O cistoscópio é inserido na uretra e avançado até a bexiga para visualização direta da anatomia da bexiga e dos ureteres.
2.Injeção do Material de Preenchimento: Um material de preenchimento, como o ácido hialurônico (Deflux®) ou poliacrilato-poliálcool (Vantris®),é injetado na parede do ureter ou próximo ao ponto de entrada do ureter na bexiga. Esse material cria uma almofada ou uma “válvula” que atuará para prevenir o refluxo da urina.
3.Alta hospitalar ocorrerá poucas horas após o final do procedimento, sem necessidade do uso de sonda ou dreno além de não precisar fazer repouso.
4.Acompanhamento: Após o procedimento, será necessário realizar exames de imagem como ultrassom, periodicamente durante alguns anos, e apenas eventualmente a uretrocistografia e/ou cintilografia renal serão indicadas, para avaliar a eficácia da intervenção e garantir que o refluxo tenha sido corrigido.
O tratamento endoscópico é geralmente considerado para casos de refluxo vesicoureteral de graus moderado a grave. Casos mais graves podem exigir abordagens cirúrgicas mais extensas e reconstrutivas, em alguns casos até cirurgia robótica. É fundamental discutir detalhes específicos do tratamento com o seu médico, pois diferentes casos de RVU podem exigir abordagens diferentes.
Quando o tratamento endoscópico o RVU é indicado?
O tratamento endoscópico do RVU pode ser indicado em casos específicos, como:
Gravidade do RVU – O tratamento endoscópico é frequentemente considerado para casos de RVU de grau moderado a grave, especialmente quando há risco de danos renais.
Infecções Urinárias Recorrentes – Se o paciente apresentar infecções urinárias de repetição relacionadas ao RVU, o tratamento endoscópico pode ser considerado para prevenir complicações.
Persistência do RVU – Quando o refluxo vesicoureteral persiste ao longo do tempo, apesar de medidas conservadoras, como tratamento antibiótico profilático e acompanhamento.
Impacto no Rim – Se houver evidência de danos renais causados pelo RVU, o tratamento endoscópico pode ser considerado para proteger a função renal.
É importante notar que as decisões sobre o tratamento do refluxo vesicoureteral devem ser feitas em consulta com o urologista pediátrico, especialmente em casos envolvendo crianças, pois o RVU é mais comum em crianças e muitas vezes é diagnosticado durante a primeira infância. O tratamento pode variar com base na idade do paciente, na gravidade do refluxo e em outros fatores clínicos e anatômicos específicos. Para saber mais sobre essa condição, acesse o artigo Refluxo Vesicoureteral.
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