Válvula de uretra posterior (VUP): diagnóstico precoce faz diferença

Válvula de uretra posterior: o que é e por que merece atenção

Problemas urinários em bebês¹ costumam gerar grande preocupação nos pais, principalmente quando aparecem sinais fora do esperado logo nos primeiros dias de vida. A insegurança aumenta diante da possibilidade de algo mais sério estar acontecendo com os rins ou a bexiga da criança.

A válvula de uretra posterior (VUP), embora seja considerada rara, é a principal causa de obstrução urinária em meninos recém-nascidos e pode trazer complicações se não identificada a tempo.

Mas, a boa notícia é que, com diagnóstico precoce e acompanhamento especializado, é possível preservar a função renal e garantir qualidade de vida ao longo do crescimento. Neste conteúdo, você vai entender o que é a VUP, como reconhecer sinais de alerta e quais são as opções de tratamento disponíveis.

O que é a válvula de uretra posterior (VUP)?

A válvula de uretra posterior (VUP) é uma malformação congênita que afeta exclusivamente meninos. Ela se forma ainda durante o desenvolvimento do bebê na gestação e consiste em pequenas pregas de tecido dentro da uretra, que funcionam como uma barreira parcial para a saída da urina.

Esse bloqueio pode dificultar o esvaziamento completo da bexiga e provocar sobrecarga nos rins, levando a infecções urinárias recorrentes e, em casos mais graves, à perda da função renal. Apesar de rara na população em geral, é considerada a principal causa de obstrução urinária em meninos recém-nascidos.

Causas, sintomas e diagnóstico da VUP

Por que a VUP acontece?

A origem está em uma alteração do desenvolvimento fetal, que cria pregas obstrutivas dentro da uretra² . Essa falha acontece ainda na formação do trato urinário, durante as primeiras semanas de gestação.

Como identificar os sintomas

  • No pré-natal: ultrassonografias podem revelar bexiga que não esvazia e com aumento da musculatura, rins dilatados (hidronefrose) ou pouco líquido amniótico.
  • Após o nascimento: sinais como jato urinário fraco, esforço para urinar, distensão abdominal ou infecção urinária precoce.
  • Na infância: infecções de repetição, dificuldade no controle do xixi e alterações na função renal.

No artigo Bebê com VUP: como fazer o diagnóstico?, mostramos como exames simples de imagem podem levantar a suspeita logo nos primeiros dias de vida, reforçando que a avaliação precoce faz toda a diferença no prognóstico.

Como é feito o diagnóstico?

Além da suspeita já no pré-natal, alguns exames ajudam a confirmar a presença da válvula.

A ultrassonografia renal avalia se há dilatação nos rins e na bexiga. A cintilografia, exame de imagem com contraste, mostra como os rins estão funcionando e se há perda de capacidade. Já a uretrocistografia miccional, que registra a bexiga durante o enchimento e o esvaziamento, permite identificar se existe refluxo de urina e se a uretra está obstruída³.

No texto Quando suspeitar de VUP durante a gestação?, explicamos que o obstetra pode identificar alterações sugestivas já no ultrassom morfológico. Essa informação é valiosa porque permite planejar o parto e os primeiros cuidados da criança com a equipe de uropediatria.

Exemplo ilustrativo

Durante o ultrassom morfológico do segundo trimestre, os pais de um bebê receberam uma notícia que mudou o rumo da gestação: os dois rins apareciam dilatados, a bexiga permanecia cheia durante todo o exame e a quantidade de líquido amniótico estava menor em comparação ao ultrassom anterior. A preocupação foi imediata, e sentimentos como medo, incerteza e angústia tomaram conta da família.

Ao serem encaminhados para atendimento especializado com um urologista pediátrico ainda na gestação, os pais puderam compreender que esses sinais poderiam estar relacionados à presença de uma válvula de uretra posterior (VUP). A consulta antecipada trouxe alívio e clareza: o médico explicou os possíveis cenários, quais cuidados seriam necessários após o nascimento e como planejar a assistência imediata do bebê. Esse acompanhamento antes mesmo do parto foi fundamental para transformar a ansiedade em confiança e preparar a família para os próximos passos.

Quando o tratamento é necessário e quais opções existem?

Nem todos os casos evoluem da mesma forma. Há bebês que apresentam obstrução grave desde os primeiros dias de vida, enquanto outros têm sintomas mais leves.

  • Casos leves: podem ser acompanhados com exames periódicos, avaliando função renal e bexiga.
  • Casos moderados a graves: geralmente exigem cirurgia precoce. A mais indicada é a ablação endoscópica da válvula, uma cirurgia minimamente invasiva em que o médico insere uma câmera bem fina pela uretra e remove a obstrução com instrumentos delicados, como o laser. Pode ser necessário permanecer mais dias no hospital e receber cuidados clínicos em UTI pediátrica até a completa estabilização.

O artigo sobre Hidronefrose antenatal mostra que muitas vezes a dilatação dos rins no ultrassom fetal está relacionada à presença de VUP. Essa relação reforça a importância do pré-natal detalhado e do encaminhamento imediato para o especialista.

Como é a cirurgia?

A ablação endoscópica é um procedimento em que, por meio de uma câmera inserida pela uretra, o cirurgião visualiza e remove uma parte da válvula com instrumentos delicados, como uma fibra de laser.

O bebê permanece sob anestesia geral durante a cirurgia e geralmente, recebe alta hospitalar em poucos dias. Essa técnica reduz riscos e permite recuperação rápida.

Como é o pós-operatório?

Após a cirurgia, geralmente há melhora imediata do jato urinário e redução das infecções. Mas o bebê deve permanecer com uma fina sonda na bexiga, durante 2 a 3 dias, enquanto regride o inchaço e sangramento, causados pela cirurgia. Porém, alguns meninos podem desenvolver disfunções miccionais ou alterações renais tardias. Por isso, o acompanhamento deve ser contínuo e individualizado:

  • Exames de sangue e imagem para avaliar a função renal.
  • Acompanhamento da bexiga, evitando complicações futuras.
  • Orientação constante para os pais, reforçando sinais de alerta, como febre ou dor intensa.

Acompanhamento a longo prazo

Algumas crianças podem apresentar dificuldade para esvaziar a bexiga ou episódios de incontinência. Nesses casos, pode ser indicado o uso de medicamentos, fisioterapia pélvica, tratamento com exercícios e técnicas para melhorar a função da bexiga, ou programas de reeducação miccional. O objetivo é garantir que a bexiga funcione bem e que o rim não sofra novas agressões ao longo do crescimento.

Perguntas frequentes sobre VUP

1. A válvula de uretra posterior pode ser identificada antes do nascimento?
Sim. Muitos casos são suspeitos ainda no ultrassom obstétrico. Mas a confirmação somente será possível após o nascimento do bebê.

2. Todo menino com VUP precisa de cirurgia?
Sim. O grau de obstrução define a urgência da intervenção.

3. A cirurgia cura definitivamente a criança?
Ela remove a obstrução, mas a criança precisa de acompanhamento contínuo, pois podem surgir complicações renais ou vesicais.

4. A VUP pode causar insuficiência renal?
Se não tratada, sim. Por isso, o diagnóstico precoce é determinante. Porém, alguns bebês apresentam ao nascimento perda irreversível do funcionamento renal.

5. A criança operada pode ter vida normal?
Na maioria dos casos, sim. Com seguimento adequado, a função urinária pode ser preservada e a criança leva uma vida plena e ativa.

6. Existe risco de recorrência da válvula após a cirurgia?
A recidiva é rara, mas pode ocorrer. Por isso são feitos exames de controle nos meses seguintes ao procedimento.

Palavra da especialista

Como urologista pediátrica, acompanho meninos com válvula de uretra posterior desde o momento da suspeita do diagnóstico no pré-natal até o tratamento e seguimento após a cirurgia. O cuidado deve ter como foco principal as necessidades de cada criança, e o papel do especialista é cuidar não apenas do aspecto físico, mas também apoiar emocionalmente a família.

Acredito que informação clara e acolhimento são tão importantes quanto a técnica cirúrgica. Nosso objetivo é transformar preocupação em  conhecimento e esperança, buscando oferecer às crianças um futuro o mais saudável possível.

Agende sua consulta

Se o seu filho apresentou alterações em exames de imagem, infecções urinárias repetidas ou dificuldade para urinar, agende uma avaliação. O diagnóstico precoce pode fazer toda a diferença.

Referências

¹: Sociedade Brasileira de Urologia. Válvula de uretra posterior: diagnóstico e tratamento. Disponível em: https://portaldaurologia.org.br/

²: Hospital Israelita Albert Einstein. Urologia Pediátrica – Condições Congênitas. Disponível em: https://www.einstein.br/

³: Nasrallah PF, et al. Posterior urethral valves: current management and outcomes. Pediatric Nephrology. 2021. DOI: 10.1007/s00467-021-05025.

⁴: Smith GH, et al. Posterior urethral valves: long-term outcomes. Journal of Pediatric Urology. 2022;18(3):299–307.

⁵: Dias CS, et al. Válvula de uretra posterior e repercussões renais. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. 2020;47:e20202253.

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Publicado por: Dra. Marilyse Fernandes
Cirurgia Pediátrica (CRM 92676 | RQE 21334) A Dra Marilyse Fernandes é médica especialista em cirurgia pediátrica e robótica, dedicada à urologia infantil com experiência em hidronefrose congênita, malformações genitais e disfunções miccionais. Formada pela Universidade Estadual de Londrina, Doutora em Ciências da Reabilitação pela Universidade de São Paulo (USP) e Pós Graduada em Cirurgia Robótica pelo Hospital Israelita Albert Einstein.

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