O pediatra é o clínico geral das crianças. Por isso, se houver suspeita de alguma doença específica, cabe a ele encaminhar os pequenos pacientes para especialistas nas respectivas áreas. Sintomas como infecção urinária de repetição, incontinência urinária, hematúria (presença de sangue na urina),por exemplo, não podem ser negligenciados. Necessitam, pelo contrário, da avaliação de um especialista em urologia pediátrica. Para saber mais, continue a leitura!
Em quais situações o pediatra encaminha a criança para um urologista?
Quando existem indícios de anomalias no aparelho urinário (rins, ureteres, uretra e bexiga) e/ou nos órgãos genitais, sejam clínicas ou cirúrgicas, o pediatra pede que os pais levem seus filhos aourologista. Isso vale tanto para meninas como meninos, independentemente da idade, pois algumas alterações urológicas são detectadas ainda no pré-natal.
O urologista pediátrico analisa o paciente, traça o diagnóstico e, a partir daí, sugere a melhor opção de tratamento para a condição apresentada. Os quadros podem ir de episódios de enurese noturna (xixi na cama) a problemas mais complexos, que necessitam de cirurgia, como malformações ou mau funcionamento do trato urinário superior ou inferior.
Quais são as doenças urológicas mais prevalentes na infância?
Doenças urológicas podem ser congênitas ou adquiridas, e necessitarem de tratamento clínico ou cirúrgico. Conheça as características de algumas das condições mais comuns nas quais o pediatra indicará uma consulta com o/a urologista pediátrico/a:
Bexiga neurogênica
Associa-se, geralmente, à malformação da coluna espinhal (mielomeningocele). Pode comprometer o funcionamento dos rins.
Muitas vezes, é diagnosticada durante a investigação de outros problemas, como incontinência urinária ou infecção urinária de repetição. O tratamento varia, indo do uso de medicamentos e fisioterapia a procedimentos cirúrgicos.
Criptorquidia
Condição na qual os testículos não descem para a bolsa testicular. Pode ser unilateral ou bilateral, congênita ou adquirida.
O diagnóstico requer um exame físico detalhado. Já o tratamento é cirúrgico, mas é indicado aguardar a descida espontânea até, pelo menos, o sexto mês de vida.
Disfunção vésico-intestinal
Gera alterações miccionais (em crianças a partir de 5 anos). Além da análise dos hábitos urinários e evacuatórios é recomendado realizar exames complementares como ultrassonografia e urofluxometria, por exemplo.
O tratamento padrão se baseia em cuidados para melhorar os hábitos miccionais, como beber bastante água e não segurar a urina. O tratamento de condições específicas, no entanto, varia: casos de bexiga hiperativa, por exemplo, necessitam de medicação; casos de micção disfuncional, exigem o treinamento da musculatura do assoalho pélvico com fisioterapia especializada, etc.
Enurese
Escapes involuntários de urina durante o sono, pelo menos 1 vez por mês por no mínimo 3 meses seguidos, em crianças com mais de 5 anos. Para traçar o diagnóstico, o histórico clínico e o exame físico são indispensáveis.
O tratamento muda de criança para criança. Nas maiores de 10 anos, é considerado indispensável para melhoria na qualidade de vida e convivência social.
Estenose de JUP (Junção Uretero-Piélica)
Obstrução ureteral congênita que dificulta ou, até mesmo, obstrui a saída de urina da pelve renal para o ureter. Levando à dilatação renal (hidronefrose) e podendo comprometer a função do rim obstruído. Muitas vezes detectadas na vida intrauterina ou ao longo da infância pode manifestar-se com dor na região lombar, infecções urinárias e hematúria, como pode também ser totalmente assintomática, nesse caso identificado através de ultrassom.
O tratamento recomendado é a pieloplastia. Os melhores resultados são obtidos por técnicas minimamente invasivas, como a assistida por robô que diminui o tempo para recuperação pós operatória.
Fimose
Caracteriza-se pelo estreitamento prepucial, que dificulta ou impede a exposição da glande. O diagnóstico é clínico, por meio do exame físico genital.
O tratamento é recomendado para crianças que continuarem com essa condição, seja congênita ou adquirida e assintomáticas, após o quarto ano de vida. Nesses casos, geralmente, realiza-se a postectomia.
Hidrocele
Trata-se do acúmulo de líquido ao redor dos testículos, gerando um aumento de volume na região. O diagnóstico é feito pela anamnese e exame físico. Quando a condição é persistente ou progressiva é necessária a correção cirúrgica.
Hidronefrose congênita
Trata-se da dilatação dos rins detectadas durante o ultrassom gestacional, sendo na grande maioria dos casos uma alteração fisiológica de caráter transitório apresentando resolução espontânea após o nascimento. Entretanto, algumas situações pode estar associada à estenose de JUP, ao refluxo vesicoureteral, estenose da junção uretero-vesical (JUV),ureterocele, válvula de uretra posterior, etc.O diagnóstico e acompanhamento é feito por meio de diversos exames, como ultrassonografia, ressonância magnética, tomografia do aparelho urinário, uretrocistografia ou cintilografia. O tratamento varia de acordo com a apresentação e evolução de cada caso.
Hipospádia
Malformação congênita, na qual a abertura da uretra (nos meninos) é anormal. O diagnóstico é clínico, com base em sintomas como: abertura da uretra na face ventral peniana, excesso de pele no prepúcio e graus variados de encurvamento peniano.
O tratamento é cirúrgico e recomenda-se como melhor idade para realiza-lo entre 10 e 18 meses de vida.
Infecção urinária
Relativamente comum, essa condição aparece em ambos os sexos, mas a prevalência em meninas aumenta com o avanço da idade. Ainfecção urinária é considerada um marcador para diversas anomalias urológicas.
A urocultura é considerada o método padrão para diagnóstico. Nas infecções urinárias de repetição recomenda-se a complementação da investigação com exames como ultrassom, cintilografia renal e uretrocistografia miccional.
Já o tratamento é feito com antibióticos, a adoção de hábitos saudáveis e condutas específicas para quadros anormais detectados.
Refluxo vesicoureteral
Ocorre quando a urina retorna da bexiga para os rins ou um dos rins. É detectado em até 30% dos pacientes com infecções urinárias de repetição. Pode desencadear a formação de cicatrizes renais, as quais poderão evoluir para perda de função do rim acometido. O exame padrão para detecção é o RX Uretrocistografia miccional. Geralmente nos primeiros meses de vida o tratamento é realizado com o uso de antibioticoprofilaxia, sendo reservado o intervenções cirúrgicas para altos graus de refluxo, persistência de infecções, anomalias associadas ou ausência da resolução espontânea com o crescimento da criança. Para o tratamento cirúrgico, quando necessário, prioriza-se a utilização de técnicas minimamente invasivas por via endoscópica ou assistidas por robô. Sendo em alguns casos a cirurgia aberta a primeira indicação.
Qual é a função da urologia pediátrica e como escolher um especialista?
O urologista pediátrico é o médico indicado para o tratamento de problemas urológicos desde a infância à adolescência, em meninos e meninas. Trata-se de uma área da medicina dedicada aos cuidados das malformações urológicas e genitais.
Para chegar a esse nível de capacitação, percorre-se um longo caminho. É preciso se formar em Medicina, fazer residência em Cirurgia Pediátrica ou Urologia e continuar se aperfeiçoado, conforme a área de interesse.
Assim, se o pediatra do seu filho recomendar a avaliação de um médico dedicado à urologia pediátrica, ele, possivelmente, indicará um parceiro de confiança. Se não, peça indicação para outros pais e busque informações nos sites das Sociedades Médicas relacionadas à Cirurgia Pediátrica e/ou Urologia. Investigue, também, a quantidade de cirurgias já realizadas — afinal, quanto mais experiência, melhor! Bom tratamento!