Quando o diagnóstico vem acompanhado de susto e silêncio, a informação vira o melhor remédio
É comum que, logo após o nascimento, os pais recebam um diagnóstico inesperado. “Seu filho tem hipospádia”, diz o pediatra. E de repente, uma palavra estranha e difícil de pronunciar vira centro das preocupações da família. É natural surgirem medos: vai afetar o desenvolvimento? Vai precisar de cirurgia? Vai urinar normalmente? E mais importante: vai ficar tudo bem?
Se você está passando por esse momento, talvez se identifique com o que relato neste outro artigo: Meu filho nasceu com hipospádia
Ao longo de mais de 20 anos de atuação em Urologia Pediátrica, tenho acompanhado famílias que chegam ao consultório com dúvidas, angústias e um desejo profundo de entender o que está acontecendo. O meu papel, como médica, é traduzir a medicina em cuidado.
Por isso, escrevi este conteúdo: para explicar de forma clara, segura e acolhedora o que é a hipospádia, como funciona a correção cirúrgica e o que você pode esperar do tratamento.
O que é hipospádia?
A hipospádia é uma malformação congênita que afeta exclusivamente os meninos. Nessa condição, a abertura da uretra — por onde o xixi sai — não está na ponta do pênis, mas em uma posição mais baixa.
Essa abertura pode estar:
- Logo abaixo da glande (distal)
- Ao longo do corpo do pênis (média)
- Perto do escroto ou períneo (proximal, forma mais complexa)
Outros sinais que podem estar presentes:
- Curvatura peniana para baixo, chamada chordee
- Prepúcio incompleto, com aparência de capuz
- Jato urinário desviado
Embora assuste inicialmente, a hipospádia é relativamente comum e, o mais importante: tem solução. O tratamento é cirúrgico e, quando feito no momento certo, permite que a criança tenha uma vida absolutamente normal.
Para entender com mais profundidade os tipos e sinais da hipospádia, leia também: Meu filho tem hipospádia: isso é grave?
Como o diagnóstico é feito?
Geralmente, a hipospádia é percebida no exame físico ao nascimento. O pediatra avalia a genitália do bebê e, ao notar a posição anormal da uretra ou ausência do prepúcio completo, encaminha para o urologista pediátrico.
Casos mais leves podem passar despercebidos, e a descoberta só ocorre meses depois, durante o acompanhamento com o pediatra. Já nas formas mais complexas, podemos solicitar exames de imagem, como ultrassonografia e, em raros casos, exames hormonais para descartar outras condições associadas.
Quando a cirurgia deve ser feita?
O melhor momento para realizar a correção da hipospádia costuma ser entre os 6 e 18 meses de idade. Nessa fase, a criança ainda não desenvolveu consciência corporal sobre a genitália, o que reduz impactos emocionais. Além disso, a recuperação cirúrgica é mais rápida e com menor risco de complicações.
Em casos simples, uma única cirurgia resolve o problema. Em hipospádias proximais (mais graves), pode ser necessário realizar a correção em duas etapas.
Como é feita a cirurgia para hipospádia?
A cirurgia de correção da hipospádia é chamada de uretroplastia. O objetivo é reconstruir o canal urinário até a ponta da glande, corrigir a curvatura e preservar a estética genital.
Principais etapas da cirurgia
- Correção da curvatura peniana (se houver)
- Reconstrução da uretra com tecido local ou enxerto (em casos complexos)
- Posicionamento adequado da abertura uretral
- Colocação de sonda urinária temporária (por 5 a 7 dias)
A cirurgia dura entre 2 e 4 horas e é feita com anestesia geral. O bebê ou a criança acorda já com curativo e sonda, sendo liberado em geral no dia seguinte.
Eu explico com mais detalhes as técnicas utilizadas na correção cirúrgica neste conteúdo complementar: Como tratar a hipospádia
Como é o pós-operatório?
O pós-operatório exige dedicação, mas costuma ser tranquilo com as orientações certas. Aqui no consultório, faço questão de que toda a família receba instruções detalhadas, além de suporte por mensagem e retorno presencial, também realizo pessoalmente os primeiros curativos para ensinar a família.
Cuidados no pós-operatório
- Manter a sonda uretral por 5 a 7 dias
- Curativos diários ou conforme orientação
- Uso de antibiótico e analgésico por 5 a 10 dias
- Higiene com água morna e sabão neutro
- Evitar atividades físicas ou brincadeiras com impacto por 30 dias
- Avaliação ambulatorial entre o 7º e o 10º dia
Alguns pais sentem medo ao ver o curativo pela primeira vez. Mas é importante saber que o aspecto inicial não representa o final. A cicatrização completa leva algumas semanas e o resultado pode ser avaliado de forma mais clara após 2 a 3 meses.
O que esperar após a cirurgia?
A maioria dos meninos tem uma recuperação excelente e segue com desenvolvimento urinário e sexual normais. Contudo, é essencial acompanhar ao longo da infância, pois algumas complicações podem surgir, especialmente nos casos mais severos.
Possíveis complicações (geralmente tratáveis)
- Fístula uretral (pequena comunicação entre a uretra e a pele)
- Estreitamento da uretra (estenose)
- Curvatura residual
- Infecções no pós-operatório imediato
Quanto mais precoce a intervenção e mais experiente a equipe, menores são os riscos. Em meu consultório, acompanho crianças até a adolescência para garantir resultados duradouros, tanto funcionais quanto estéticos.
Casos reais que mostram como o cuidado transforma
Lembro de um paciente que chegou aos 5 anos com hipospádia distal não corrigida. Os pais tinham receio da cirurgia e foram adiando. Com o passar do tempo, a criança começou a se sentir diferente dos colegas, se recusava a urinar em locais públicos e sentia vergonha do próprio corpo.
Após a cirurgia, o relato dos pais foi emocionante: “Ele voltou a brincar sem medo, começou a ir sozinho ao banheiro e até disse que o pipi dele estava normal agora”. Essas histórias reforçam que o cuidado vai além da técnica — envolve empatia, escuta e presença.
Quando procurar um urologista pediátrico?
Procure avaliação especializada sempre que houver:
- Diagnóstico de hipospádia ao nascimento
- Curvatura peniana evidente
- Jato urinário para baixo ou lateral
- Dificuldade de urinar em pé
- Queixas estéticas ou comportamentais da criança
Perguntas frequentes sobre hipospádia
A hipospádia tem cura?
Sim. A cirurgia pode corrigir a abertura da uretra, curvatura e aparência estética.
É sempre necessário operar?
Geralmente, sim. A cirurgia evita complicações urinárias, infecções e traumas emocionais.
Vai precisar de mais de uma cirurgia?
Depende. Casos leves geralmente resolvem com uma só. Formas proximais podem exigir mais de uma etapa.
É uma cirurgia arriscada?
É delicada, mas muito segura quando feita por urologista pediátrico experiente.
Com quantos meses o bebê pode operar?
Entre 6 e 18 meses de idade é o ideal, mas cada caso é avaliado individualmente.
Palavra da especialista: Dra. Marilyse Fernandes
Sou a Dra. Marilyse Fernandes, médica dedicada à Urologia Pediátrica com mais de 20 anos de atuação. Tenho orgulho de dizer que a hipospádia foi uma das condições que mais despertou minha paixão pela especialidade, justamente por envolver um cuidado contínuo e transformador.
Atuo com urologia pediátrica em todas as idades, desde recém-nascidos até adolescentes. Você pode conhecer mais sobre essa abordagem neste conteúdo: Urologia pediátrica em todas as idades.
Ao longo da minha trajetória, acompanhei centenas de famílias nesse processo — da consulta inicial à alta pós-operatória. Meu compromisso é oferecer informação clara, decisão compartilhada e acompanhamento completo para garantir o melhor resultado para cada criança.
Agende sua consulta
Se você é mãe, pai ou responsável por uma criança com diagnóstico de hipospádia, não precisa passar por esse momento sozinho. Aqui, o cuidado envolve técnica, mas também com acolhimento. Agende uma consulta comigo e tire todas as suas dúvidas. Será um prazer fazer parte do cuidado do seu filho.