O refluxo de urina para os rins, também conhecido como refluxo vesicoureteral (RVU),é uma condição urológica que envolve o retorno anormal da urina da bexiga para os ureteres e, em muitos casos também para os rins.O significado clínico do RVU baseia-se na hipótese de que a passagem retrógrada da urina transporta bactérias da bexiga para dentro dos rins.
Dessa forma, predispõe a ocorrência de pielonefrite aguda e como consequência pode levar a cicatrizes renais, hipertensão arterial e doença renal em estágio terminal. Entretanto, alguns aspectos das teorias envolvendo o refluxo são questionados, como resultado, há controvérsias quanto ao manejo ideal dos pacientes com RVU.
O refluxo vesicoureteral é a anomalia urológica mais comum na infância, ocorre em 1-2% dos recém-nascidos, em 15-20% dos bebês com hidronefrose antenatal e em 30-40% das crianças com infecção urinária febril,sendo que 65% das crianças com refluxo tem idade inferior a 7 anos.
Existe predisposição genética para refluxo vesicoureteral primário, conforme documentado por uma revisão sistemática que encontrou taxas de 27.4% para irmãos de paciente com RVU e 35.7% para filhos de pais que tiveram RVU na infância. O risco de RVU diminuiu à medida que a idade do membro da família examinado aumenta. E predisposição maior é para formas mais leves de refluxo (16.7% versus 9.8%).
A recorrência familiar de RVU implica que os fatores genéticos têm um papel importante na sua patogênese, mas nenhum locus ou gene principal para o refluxo foi identificado e a maioria dos pesquisadores reconhece que o RVU é geneticamente heterogêneo. Há também provável suscetibilidade genética individual modulando a resposta imunológica e o desenvolvimento de cicatrizes renais nas crianças com refluxo vesicoureteral. Evolução das técnicas de varredura do genoma e do conhecimento das bases genéticas do RVU ajudará na melhor compreensão da sua patogênese.
Geralmente classificamos o RVU em duas categorias principais: refluxo primário e refluxo secundário, baseado nos fatores causais do retorno da urina para o trato urinário superior.
O RVU primário é a forma mais comum de refluxo, decorre do fechamento insuficiente ou inadequado da junção ureterovesical (JUV),ou seja, do segmento do ureter localizado dentro da parede da bexiga (ureter intravesical). Normalmente, a passagem retrógrada da urina é impedida pela contração dos músculos da bexiga, causando oclusão total do ureter intravesical. No RVU primário, a falha deste mecanismo anti-refluxo é devido ao ureter intravesical ser congenitamente curto.
A resolução espontânea do RVU primário de baixo grau geralmente ocorre com o crescimento do paciente. À medida que a bexiga cresce, o comprimento do ureter intravesical aumenta, melhorando a função do mecanismo anti-refluxo. Entretanto, quando o ureter intravesical curto decorrer de algum defeito na anatomia da JUV, como observado nas crianças com duplicidade ureteral, ectopia ureteral,divertículo para-ureteral; geralmente não há resolução espontânea do refluxo, sendo necessária a correção cirúrgica.
Já o RVU secundário resulta de pressão elevada na bexiga durante a micção, levando a falha do mecanismo de fechamento da JUV, que deve ocorrer durante a contração da bexiga, evitando assim o retorno da urina. O RVU secundário é frequentemente causado por alguma obstrução anatômica, localizada abaixo da bexiga, como a observada na válvula da uretra posterior ou por obstrução funcional como ocorre na bexiga neurogênica e na disfunção miccional. A gravidade da obstrução influencia a intensidade do refluxo vesicoureteral.
Para saber mais sobre manifestações clínicas, exames solicitados para o diagnóstico e como o tratamento do refluxo vesicoureteral poderá ser realizado,veja outros artigos sobre o assunto que já foram publicados no blog. Até breve!