Varicocele em adolescentes - Dra. Marilyse Fernandescomprometimento futuro da fertilidade.

Geralmente a varicocele é assintomática, mas pode eventualmente causar dor. Muitas vezes, pode ser confundida com uma hérnia devido ao inchaço na região escrotal.

Quando descoberta durante uma consulta médica de rotina, identifica-se por um aumento de volume na região escrotal, devido a presença de veias dilatadas e  tortuosas.

Observada mais facilmente com o paciente em pé (Fig 3). Do mesmo modo, durante a avaliação clínica, pode-se observar o tamanho testicular diminuído.

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Varicocele

Varicocele é a dilatação anormal das veias que compõem o cordão espermático – veias do plexo pampiniforme – sendo causada pelo retorno do sangue venoso para o testículo (Fig 1).

Em primeiro lugar, é incomum a ocorrência nos meninos com menos de 10 anos, tornando-se mais frequente a partir do início da puberdade. Dessa forma, é identificada em 15 a 20% dos adolescentes, taxa de ocorrência similar à encontrada em homens adultos.

Manifesta-se em 75 a 90% no lado esquerdo!

Como consequência da varicocele, pode ocorrer a morte celular programada das células testiculares – apoptose – em virtude do acúmulo de toxinas, elevação da temperatura local e privação hormonal.

Em cerca de 45% dos adolescentes com varicocele, identifica-se alguma anormalidade histológica testicular. Sendo que, em até 20% destes pode haver severos danos ao desenvolvimento do testículo.

Nos casos de varicocele de grau moderado a severo, em torno de 70% apresenta redução do tamanho testicular. Os efeitos adversos da varicocele pioram com a persistência do problema, em outras palavras 20% dos adolescentes podem ter comprometimento futuro da fertilidade.

Geralmente a varicocele é assintomática, mas pode eventualmente causar dor. Muitas vezes, pode ser confundida com uma hérnia devido ao inchaço na região escrotal.

Quando descoberta durante uma consulta médica de rotina, identifica-se por um aumento de volume na região escrotal, devido a presença de veias dilatadas e  tortuosas.

Observada mais facilmente com o paciente em pé (Fig 3). Do mesmo modo, durante a avaliação clínica, pode-se observar o tamanho testicular diminuído.

Causas e Sintomas da Varicocele

Existem alguns fatores relacionados ao desenvolvimento da varicocele, como o rápido crescimento estatural, o aumento do fluxo sanguíneo testicular, herança genética, além da presença de alguma anormalidade anatômica na veia renal esquerda, dificultando a drenagem venosa pela veia gonadal - síndrome de quebra nozes ou nutcracker (Fig 2).

Conforme os achados do exame físico, a varicocele é classificada em três graus:

  • Grau I - as veias dilatadas são identificadas somente pela palpação e durante a realização da manobra de Valsalva;
  • Grau II - as veias dilatadas são identificadas pela palpação, sem a necessidade de manobras adicionais;
  • Grau III - as veias dilatadas são visíveis à distância.

Diagnóstico e Tratamento da Varicocele

Através do exame doppler ultrassom identifica-se a presença de refluxo de sangue venoso para testículo, confirmando o diagnóstico da varicocele e permitindo a identificação dos casos de varicocele subclínica. Além disso, o volume testicular pode ser medido pelo ultrassom, sendo considerado reduzido, quando a diferença entre os testículos for maior que 2 ml ou 20%.

Quando a varicocele surgir antes dos 10 anos ou manifestar-se somente no lado direito, devemos realizar ultrassom do aparelho urinário para afastar a presença de tumor renal - Tumor Wilms, como causa primária.

Não há evidências até o momento de que o tratamento da varicocele, durante a infância, produzirá melhor perfil androgênico melhor quando comparado ao tratamento da varicocele na vida adulta.

Desta forma, o tratamento cirúrgico da varicocele, em crianças e adolescentes, é recomendada nas seguintes situações:

  • Varicocele com hipoplasia testicular - diferença de tamanho entre os testículos maior que 2 ml ou 20%;
  • Presença de outra condição testicular associada que possa afetar a fertilidade;
  • Varicocele bilateral;
  • Espermograma alterado - passível de ser realizado após os 16 anos;
  • Varicocele com dor ou causando desconforto pelo grande aumento de volume escrotal.

O tratamento cirúrgico consiste na ligadura ou oclusão das veias espermáticas internas. Isto pode ser realizado de diversas maneiras:

  • Ligadura microcirúrgica na região inguinal ou sub-inguinal. Tem taxa de recorrência de 10%;
  • Ligadura por via laparoscópica (Fig 4) ou aberta na região supra-inguinal,
  • Recomenda-se que o procedimento cirúrgico seja realizado, independente da via de acesso utilizada, preservando os vasos linfáticos, para reduzir a chance de ocorrência de hidrocele e de hipertrofia testicular compensatória no pós-operatório.

Por outro lado, a preservação da artéria testicular não melhora a recuperação do testículo, além de aumentar as chances de recidiva da varicocele.

Adicionalmente, outro tratamento minimamente invasivo, é a embolização ou esclerose retrógrada da veia espermática interna, procedimento radiológico realizado por via angiográfica, que permite a preservação dos vasos linfáticos. Apesar de geralmente ser realizado sem o emprego da anestesia geral, expõe o paciente a doses não controladas de radiação.

Em uma revisão sistemática com meta-análise da literatura, publicada em 2018, que comparou os resultados do tratamento conservador (expectante) com o tratamento cirúrgico, em mais de 16 mil crianças e adolescentes com varicocele, demonstrou aumento do tamanho do testiculo afetado e da concentração total de espermatozóides, após o tratamento cirúrgico. Com relação à técnica cirúrgica, identificou-se que a preservação linfática reduz as chances de hidrocele.

Além disso, observou-se elevadas taxas de 90% no pós-operatório de resolução da dor e de desaparecimento da varicocele - 85 a 100%, associado a risco variável de complicações - 0 a 29%.  As evidências atuais não demonstram superioridade de nenhuma das técnicas cirúrgicas/intervencionistas. Prognóstico a longo prazo, incluindo paternidade e fertilidade, ainda permanecem desconhecidos.

"O conteúdo destas informações foram revisados pela Dra Marilyse Fernandes. Destina-se apenas para fins educacionais e não deve substituir avaliação médica ou de qualquer outro profissional de saúde. Encorajamos a discussão de quaisquer dúvidas ou preocupações  com o/a médico/a de sua preferência e confiança".


Fig. 1 - Representação esquemática que demonstra no lado esquerdo, o refluxo de sangue venoso pela veia espermática interna,causando a varicocele.

Fonte: https://www.nature.com/articles/nrurol.2017.98


Fig. 2 - Representação esquemática que demonstra o pinçamento da veia renal esquerda pela artéria mesentérica superior, podendo causar a síndrome de quebra nozes ou nutcracker. LRA: artéria renal esquerda/ LRV: veia renal esquerda/ SMA: artéria mesentérica superior.

Fonte: internet

varicocele

Fig. 3 - Representação do aspecto clínico da varicocele, identificando-se na região escrotal, veias dilatadas e tortuosas.

Fonte: internet

Fig. 4 - Desenho esquemático da visão laparoscópica do cordão espermático. Abertura peritoneal com exposição das veias espermáticas dilatadas.

Fonte : Esteves et al. (eds.),Varicocele and Male Infertility, 2019. https://doi.org/10.1007/978-3-319-79102-9_16

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