Hérnia em criança: é preciso se preocupar? - Dra. Marilyse Fernandes

Hérnia em criança: é preciso se preocupar?

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Por: CRM 92676 | RQE 21334

Hérnia em criança é mais comum do que se imagina. Como o tratamento recomendado é a correção cirúrgica, isso pode deixar a maioria dos pais receosos. Além disso, os médicos, em algumas circunstâncias, recomendam que o procedimento seja realizado quanto antes. Ou seja, deve-se aguardar apenas o tempo necessário para realização das etapas do preparo pré-operatório.

Porém, não é preciso ficar assustado! Para saber mais sobre as hérnias em crianças e como lidar com o problema da melhor forma possível, continue a leitura!

Quais são os tipos mais comuns de hérnias em crianças?

A hérnia abdominal é uma abertura anormal na parede do abdome, na qual ocorre a passagem de conteúdos da cavidade (alças intestinais, epíplon, ovário) através da parede abdominal. Nas crianças, geralmente é uma anormalidade congênita, podendo manifestar-se logo após o nascimento ou durante a infância. Já nos adultos, as hérnias podem ocorrer devido à fraqueza progressiva da parede abdominal, mas isso raramente ocorre em lactentes, crianças ou adolescentes. A hérnia será visível quando surgir um abaulamento ou protuberância, persistente ou intermitente, localizados na área do umbigo, na virilha ou região escrotal.  

Quais hérnias podem ser tratadas pela urologia pediátrica?

Tanto a hérnia inguinal como a umbilical podem ser tratadas pela cirurgia pediátrica e urologia pediátrica. O encaminhamento, geralmente, é feito pelo pediatra. Às vezes, no entanto, os pais notam o problema e levam o/a filho/a, diretamente, ao especialista.

Por isso, além de comparecer regularmente às consultas pediátricas, é muito importante ficar atento aos sinais. Conheça, a seguir, as características das hérnias mais prevalentes na infância. 

Hérnia inguinal

A hérnia localizada na região da virilha é chamada de hérnia inguinal. As hérnias inguinais ocorrem em 2% de todas as crianças; são mais comuns em meninos do que em meninas. Podem ocorrer em ambos os lados, sendo mais frequentes no lado direito. Alguns fatores colocam as crianças em maior risco para apresentar o quadro de hérnia inguinal como na prematuridade, na falha da descida testicular, fibrose cística e nas displasias do desenvolvimento do quadril.

Durante o desenvolvimento fetal, forma-se uma comunicação do peritônio (membrana de revestimento interno do abdome) em forma de dedo de luva, através da região inguinal, prolongando-se até os grandes lábios, na menina, e o escroto, nos meninos.  Após o nascimento, quando esta comunicação não desaparecer, geralmente aparecerá uma hérnia inguinal.

A hérnia inguinal aparece como uma protuberância ou inchaço na virilha ou no escroto. As hérnias inguinais são aparentes apenas quando uma parte do conteúdo da cavidade abdominal estiver dentro do saco herniário. Nos bebês e crianças pequenas, como a abertura na parede abdominal é muito estreita, somente em alguns momentos será visível  este abaulamento.

O inchaço pode ficar mais visível quando o bebê chorar ou quando a criança fizer algum tipo de atividade física. É comum ficar menor ou desaparecer quando o bebê ou a criança relaxarem. Durante uma avaliação médica, é possível empurrar de forma suave o abaulamento, se a criança estiver calma e em repouso, com redução do tamanho do inchaço. Caso a hérnia não seja redutível, uma alça intestinal pode estar aprisionada e não retornar para a cavidade abdominal. Nesta situação será necessária uma cirurgia de urgência.

Sendo assim, recomenda-se que após a confirmação da existência de hérnia inguinal, o tratamento cirúrgico seja realizado o mais breve possível — trata-se, aliás, de uma das cirurgias mais realizadas na infância. Caso contrário, a chance de surgirem complicações pode aumentar.

O encarceramento (quando a víscera fica presa no saco herniário) e o estrangulamento (evolução com comprometimento da vascularização da víscera),  são complicações potencialmente sérias da hérnia inguinal, pode produzir consequências graves tais como necrose intestinal e atrofia ovariana ou testicular.

Hérnia umbilical

A hérnia umbilical ocorre em aproximadamente 20% de todos os recém-nascidos, sendo mais frequente em prematuros, nascidos com baixo peso, mielomeningocele ou síndromes genéticas. A hérnia  umbilical se desenvolve por falha de fechamento adequado da parede abdominal ao redor do cordão umbilical, permitindo que estruturas presentes no abdome, entrem nesta abertura.

É identificada pela presença de inchaço ou abaulamento no umbigo. A protuberância geralmente parece macia e pode aparecer e desaparecer. É comumente percebida quando a criança chora, tosse ou fica de pé. Este tipo de hérnia varia muito em tamanho, desde pequenos a grandes abaulamentos. Quando a hérnia é volumosa, observa-se um excesso de pele que estará presente na região umbilical mesmo quando a hérnia não estiver visível. Habitualmente, é assintomática e diminui progressivamente de tamanho, em cerca de 90% das crianças, evoluindo com fechamento espontâneo por volta dos 3-4 anos de idade. É incomum durante a infância a ocorrência de dor ou encarceramento na hérnia umbilical. Caso isso ocorra, a criança deverá ser avaliada imediatamente.

A indicação para a correção cirúrgica será quando a criança apresentar sintomas de dor local, algo extremamente incomum, assim como nos casos em que a largura do anel herniário é maior que 1.5 cm ou quando o abaulamento umbilical não desaparecer após os 3 anos de vida.  

Hérnia epigástrica

Trata-se de um pequeno defeito muscular localizado na linha vertical no centro do abdome, levando ao aparecimento de um nódulo. Geralmente assintomático, não apresenta cura espontânea. Por isso, a conduta terapêutica também é cirúrgica, realizada de forma eletiva.

É possível aguardar o crescimento do bebê?

Nos casos de hérnia inguinal isso não é recomendado. Primeiro, porque este tipo de hérnia não se  cura espontaneamente. Segundo, porque 50% das complicações (encarceramento e estrangulamento) ocorrerão nos primeiros 3 meses de vida. Vale ressaltar que, através de cuidados específicos, até mesmo o recém-nascido poderá ser operado em plenas condições de segurança, evitando assim problemas maiores.

Como são feitos os diagnósticos das hérnias?

Habitualmente, uma somatória de informações da história clínica associada ao exame físico da criança serão suficientes para que o médico possa concluir o diagnóstico. As informações, trazidas pelos pais ou cuidadores da criança, são preciosas e fundamentais para que o  diagnóstico seja correto. É importante relatar em quais momentos ocorrem os episódios de inchaço ou abaulamento, qual sua localização e se há algum outro sintoma associado.

A palpação das regiões umbilical, epigástrica, inguinal e escrotal, durante a realização do exame físico, demonstra para o cirurgião experiente alguns sinais indiretos da existência de uma hérnia abdominal. Eventualmente, a hérnia poderá até ser visível durante a avaliação médica. 

Geralmente, os exames de imagem, como a ultrassonografia, não estão indicados para a avaliação diante de uma suspeita de hérnia abdominal. Entretanto, em alguns casos selecionados, tal exame pode auxiliar na diferenciação de outros motivos para um inchaço escrotal como, por exemplo, os causados pela hidrocele e varicocele. 

Como é o tratamento para hérnias em crianças?

O tratamento, para qualquer tipo de hérnia, é cirúrgico. A cirurgia é ambulatorial e a alta costuma ocorrer no mesmo dia. Apenas em casos específicos, como nos pacientes nascidos prematuros ou com crises de apneia (ausência de respiração) ou bradicardia (diminuição da frequência cardíaca),a internação pode ser estendida.

O tratamento cirúrgico eletivo das hérnias abdominais apresenta excelentes resultados. A correção da hérnia inguinal realizada por técnica aberta, ocorre através de uma incisão de cerca de 3 cm, na região inguinal do lado afetado, na altura da linha do biquíni. 

cirurgia laparoscópica é uma técnica minimamente invasiva realizada por meio de 2 a 3 incisões (3 – 5 mm) e pinças cirúrgicas apropriadas que permitem a exploração e o tratamento bilateral quando necessário, reduzindo o tempo operatório nesta situação, proporcionando menor taxa de infecção da ferida operatória e mínima manipulação das estruturas do cordão espermático.

As possíveiscomplicações no pós-operatório incluem redução do tamanho testicular (≤20%),atrofia testicular (1-2%),lesão do ducto deferente (<1%).  As taxas de recorrência da hérnia inguinal são de cerca de 1%, sendo as taxas semelhantes quando comparadas a cirurgia convencional e a laparoscópica. A maioria das recorrências ocorre durante o período do primeiro ano pós-operatório e as crianças com múltiplas comorbidades têm um risco maior de recorrência. No entanto, nas mãos de um cirurgião experiente e treinado para o tratamento de crianças, complicações e recidiva são bastante infrequentes. 

Como são o pré e o pós-operatório nesse tipo de cirurgia?

O preparo pré-operatório da família e da criança vai além de seguir as orientações médicas. É necessário avaliação anestésica, não aplicar vacina no prazo de 15 dias antes da cirurgia, comparecer à consulta de orientação pré-cirúrgica, respeitar o jejum recomendado e estar presente no hospital no horário indicado, de posse de todos os documentos fornecidos. 

No pós-operatório, nas primeiras 24 horas é recomendada alimentação leve, uso de medicamentos para controle da dor por 48 horas, manter a ferida cirúrgica limpa, seca e evitar atividades físicas intensas nos primeiros 21 dias. Não há necessidade de retirada de pontos da cicatriz cirúrgica. O retorno para as atividades escolares, geralmente, ocorrerá  após 7 dias. 

Assim, quando se trata de hérnias em crianças, é indiscutível a necessidade de avaliação do uropediatra ou do cirurgião pediátrico. Quanto mais experiente, mais o médico será apto na escolha da técnica mais apropriada a cada caso.

O emprego de técnicas minimamente invasivas, como a cirurgia laparoscópica, por exemplo, exige capacitação e prática para que se possa alcançar todos os benefícios do método, pois a técnica é cheia de detalhes. Por isso, encontre um especialista de confiança e lembre-se: mesmo diante da surpresa e da ansiedade que sentirá quando a criança precisar de uma cirurgia, esse tipo de intervenção tem tudo para ser bem-sucedida!

Ficou mais tranquilo? Caso deseje, entre em contato e tire suas dúvidas sobre a videocirurgia!


Dra. Marilyse Fernandes
Publicado por: Dra. Marilyse Fernandes - Cirurgia Pediátrica - CRM 92676 | RQE 21334
A Dra Marilyse Fernandes (CRM 92676 / RQE 21334) é médica especialista em cirurgia pediátrica e robótica, dedicada à urologia infantil com experiência em hidronefrose congênita, malformações genitais e disfunções miccionais. Formada pela Universidade Estadual de Londrina, Doutora em Ciências da Reabilitação pela Universidade de São Paulo (USP) e Pós Graduada em Cirurgia Robótica pelo Hospital Israelita Albert Einstein.
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