Quando a criança apresenta bexiga neurogênica, estamos falando de um comprometimento neurológico que afeta o funcionamento da bexiga.
É o termo empregado quando o funcionamento anormal da bexiga é originado por algum problema neurológico.
Desta forma, ocorre por uma incapacidade na troca e coordenação das informações entre a bexiga, a medula espinhal e o sistema nervoso central (Fig 1).
Portanto o resultado pode ser, por exemplo, a perda da capacidade de contração e relaxamento da musculatura da parede da bexiga no momento certo!
Antes de mais nada, vale lembrar que nossa bexiga desempenha duas funções principais: o armazenamento e o esvaziamento da urina (Fig 2).
Então, para estas etapas acontecerem da forma correta, dependemos do funcionamento coordenado entre nervos e músculos do trato urinário.
Em suma, a capacidade da bexiga para armazenar e esvaziar a urina poderá estar comprometida nos pacientes com bexiga neurogênica.
As principais causas de bexiga neurogênica na infância são defeitos congênitos do tubo neural como os decorrentes da mielomeningocele, medula presa e disrafismo espinhal.
Outras possíveis causas podem ser trauma raquimedular ou o desenvolvimento de um tumor no sistema nervoso central.
Simultaneamente é comum apresentar dificuldade para adquirir o controle evacuatório completo.
Nesse sentido, não é raro a presença de escape fecal e ou constipação.
O escape fecal causa grande impacto afetivo e motivacional na criança com prejuízos no seu desenvolvimento global.
De maneira geral apresentam perda de autoestima, ansiedade e dependência de cuidador, havendo invariavelmente prejuízo ao convívio social.
Portanto, restabelecer a continência fecal ou viabilizar medidas que mantenham os pacientes com bexiga neurogênica artificialmente limpos é o mais importante!
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Saiba mais sobre diagnóstico e as inúmeras opções para o tratamento da bexiga neurogênica.
Tratamento da Bexiga Neurogênica
Os principais objetivos do tratamento de crianças com bexiga neurogênica é alcançarmos a melhor continência urinária possível mas acima de tudo com preservação a longo prazo do funcionamento renal.
Como resultado, a sociabilidade, autoestima positiva e a autonomia com ganho na qualidade de vida da criança serão favorecidos.
Além da equipe médica, é fundamental o suporte de equipe multidisciplinar, com enfermagem, fisioterapia e psicologia, trabalhando em parceria com o paciente e sua família em cada uma das etapas terapêuticas.
Cateterismo intermitente limpo (CIL) - Trata-se da passagem de um fino cateter pela uretra até a bexiga da criança, possibilitando o completo esvaziamento da urina.
Muitas vezes é a primeira medida indicada no tratamento de bexiga neurogênica, inclusive logo após o nascimento.
É um procedimento simples realizado pelos próprios familiares da criança, algumas vezes durante o dia.
Dessa forma, após receber treinamento por uma equipe de enfermagem especializada, estarão aptos a realizar este procedimento.
O esvaziamento rotineiro da bexiga produz importantes benefícios como:
- redução do risco de infecção do trato urinário;
- controle da dilatação do trato urinário superior;
- proteção da bexiga e melhora da incontinência.
Para saber mais acesse http://www.doutorbexiga.com.br. Projeto super interessante da Universidade Estadual Paulista - Unesp, coordenado pela Profa. Dra. Maria Andreia Garcia de Ávila, com atividades de pesquisas realizadas pelo Prof. Dr. João Luiz Amaro entre outros profissionais referência no assunto. O site traz dicas e vídeos aos pais e crianças.
Saiba mais sobre cateterismo vesical intermitente nos meninos e meninas!
Drenagem vesical durante a noite - algumas crianças precisam permanecer com um cateter na bexiga, enquanto dormem, para drenar continuamente a urina.
Isso pode reduzir a frequência das infecções do trato urinário, melhorar a dilatação dos rins e a continência urinária.
A drenagem noturna em conjunto com o cateterismo intermitente limpo, durante o dia, pode manter as propriedades de armazenamento da bexiga.
Antibioticoterapia profilática - consiste no uso diário de antibiótico, porém em uma dose menor que a habitual.
Pode ser recomendado quando a criança apresentar dificuldade ou incapacidade para esvaziar a bexiga, presença de refluxo vesicoureteral - RVU - ou em qualquer outra condição que coloque a criança em risco de desenvolver uma infecção do trato urinário.
Medicamentos anticolinérgicos - importante classe de substâncias, como por exemplo a Oxibutinina,Tolterodina, Solifenacina, Darifenacina, que atuam no relaxamento da musculatura lisa da bexiga, evitam a contração inadequada e assim aumentam a capacidade de armazenamento da urina.
Tratamento endoscópico com toxina botulínica (Fig 3) - é um método alternativo, minimamente invasivo, empregado no tratamento de crianças com bexiga neurogênica com hiperatividade detrusora, nos seguintes casos:
- falha na resposta com o tratamento medicamentoso,
- presença de efeitos colaterais com o uso dos anticolinérgicos
- falta de consentimento dos pais para o tratamento cirúrgico, seja na vesicostomia ou em uma ampliação vesical.
TRATAMENTO CIRÚRGICO
Uma cirurgia poderá ser indicada nos pacientes cuja incontinência não foi controlada por meio de medidas anteriores.
Vesicostomia - é um procedimento cirúrgico, no qual criamos uma pequena abertura na bexiga, através da parede abdominal, localizada próximo ao púbis. Dessa forma permitirá a ampla e contínua drenagem da urina. O aspecto final será parecido com uma pequena fenda, circundada por um tecido macio e róseo.
A vesicostomia é uma opção temporária e pode ser revertida a qualquer momento.
Ampliação vesical - com o emprego de segmentos do intestino delgado, conseguimos aumentar o tamanho da bexiga, promovendo assim um acréscimo na sua capacidade e a queda da pressão no seu interior.
Conduto apendicovesical - Mitrofanoff (Fig 4) - É a criação de uma discreta abertura continente - chamada de ostomia ou estomia - fornecendo acesso rápido e prático para o esvaziamento da bexiga.
Geralmente, utilizamos o apêndice cecal ou um pequeno segmento do intestino delgado, para construir este conduto cateterizável e assim comunicar a bexiga com a pele da parede abdominal. Sendo o procedimento possível de ser realizado com o auxílio robótico (Vídeo 1).
Essa técnica permite que as crianças escolares e os adolescentes, de maneira independente, utilizem um cateter através deste conduto, para esvaziar a bexiga, proporcionando assim aumento da auto-estima e da privacidade, com ganhos na qualidade de vida destes pacientes.
Este procedimento, geralmente é realizado de maneira associada, quando for necessário, a outros procedimentos cirúrgicos, como por exemplo, ampliação da capacidade da bexiga; reconstrução do colo vesical; colocação de sling fascial ou de esfíncter urinário artificial.
Técnica de Malone - (MACE) - é a abertura criada usando o apêndice cecal ou pequeno segmento do intestino delgado, conectando o cólon à pele abdominal.
Dessa forma, este procedimento permite aos pacientes com incontinência fecal, fazer a lavagem intestinal anterógrada diretamente no cólon ou seja de cima para baixo, facilitando assim a limpeza e o esvaziamento das fezes.
Cecostomia tubada - é um pequeno tubo de silicone fixado no intestino grosso (ceco),através da parede abdominal.
Este procedimento permite que as crianças com incontinência fecal, apliquem os fluidos diretamente no cólon, promovendo a eliminação das fezes.
Geralmente empregado temporariamente, até que o paciente e família, sintam-se encorajados a realização do MACE.
"O conteúdo destas informações foram revisados pela Dra Marilyse Fernandes. Destina-se apenas para fins educacionais e não deve substituir avaliação médica ou de qualquer outro profissional de saúde. Encorajamos a discussão de quaisquer dúvidas ou preocupações com o/a médico/a de sua preferência e confiança".